Os raios cósmicos de alta energia parecem gerar chuveiros de partículas com até 60% mais múons do que preveem os modelos criados a partir das medições feitas no Grande Colisor de Hádrons (LHC), o principal acelerador de partículas do Cern. A discrepância foi constatada pelos registros obtidos por físicos do Observatório Pierre Auger, situado nos Andes argentinos, uma iniciativa internacional com participação do Brasil (Physical Review Letters, 31 de outubro). Os múons são partículas elementares semelhantes aos elétrons, mas cerca de 200 vezes mais massivas. Quando os raios cósmicos (constituídos basicamente por prótons e núcleos leves) colidem com moléculas na atmosfera da Terra, cascatas de partículas secundárias são geradas por meio de uma série de interações. Uma dessas partículas são os múons, que em sua grande maioria chegam ao solo da Terra. Por meio de 1660 tanques Cherenkov que cobrem uma área de 3 mil quilômetros quadrados e de quatro conjuntos de telescópios, o Auger detecta os múons que caem nos Andes. As colisões de raios cósmicos na atmosfera que dão origem aos múons são 10 vezes mais energéticas do que as produzidas entre as partículas no LHC. Os resultados do experimento sugerem que o entendimento sobre as interações de partículas elementares a altas energias ainda é apenas parcial. Não é a primeira vez que a quantidade de múons medidos na Terra não coincide com as previsões dos modelos da física. No ano 2000, o experimento HiRes-MIA detectou uma densidade maior de múons nos chuveiros de raios cósmicos do que previam os modelos teóricos da época.
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