Os três sócios da Orbisat, empresa especializada em sensoriamento remoto com sede em São José dos Campos, no interior paulista, têm bons motivos para comemorar. O faturamento de seu negócio deve alcançar este ano R$ 60 milhões, um salto de 40% em relação ao resultado de 2007, que foi de R$ 43 milhões. O motivo do expressivo crescimento é a aposta contínua em inovação tecnológica. A mais recente novidade da empresa, que consumiu 1 ano de pesquisas e investimentos de R$ 500 mil, é uma versão avançada do radar aerotransportado OrbiSar RFP (sigla em inglês de radar para penetração em cobertura vegetal) para a produção de mapas em três dimensões, que aumenta a precisão na captação da topografia real do solo de florestas de 1,5 metro para apenas 1 metro. Além dele, engenheiros e técnicos da empresa estão desenvolvendo em conjunto com o Exército brasileiro uma família de radares de vigilância aérea, batizados de Saber (Sistema de Acompanhamento de Alvos Aéreos Baseados em Emissão de Radiofreqüência) e trabalham numa modificação do OrbiSar RFP para detecção de manchas de óleo na superfície do mar.
A precisão oferecida pela nova versão do OrbiSar RFP é uma das melhores do mundo. “Conseguimos capturar imagens com precisão altimétrica de, no mínimo, 1 metro”, garante o engenheiro eletrônico João Roberto Moreira Neto, sócio-diretor da Orbisat. Oferecer informações acuradas sobre a topografia do terreno é vital para empresas que atuam na área de mineração e no setor elétrico, entre outras. Mineradoras precisam conhecer com exatidão o solo onde se encontram suas jazidas para calcular a quantidade de terra que deve ser retirada para chegar à camada subterrânea de minério. E as construtoras de grandes hidrelétricas precisam saber com detalhes a topografia do terreno onde será construído o lago da usina para realizar os cálculos de área de inundação. Os dados coletados pelos radares cartográficos OrbiSar RFP também fornecem informações sobre o tipo de cobertura do solo, a distribuição de biomassa e o escoamento hidrológico da região imageada.
O OrbiSar RFP emprega a tecnologia InSAR (Radar Interferométrico de Abertura Sintética), que faz uma fotografia avançada do solo, mostrando as dimensões das árvores, rios, estradas e prédios. O modelo da Orbisat foi projetado para gerar informações geográficas precisas, principalmente de áreas com densas florestas, e utiliza duas freqüências de mapeamento simultâneas: as bandas X e P. “A banda P penetra na floresta e mede a altura do solo com precisão de 1 metro”, explica Moreira Neto. “A banda X mede a altura da copa das árvores.” O segredo para aumentar o nível de precisão foi o desenvolvimento de algoritmos mais acurados de processamento de dados.
O radar também faz imagens à noite ou em dias nublados e com fortes chuvas. Em vez de utilizar luz para realizar o mapeamento, como faz a maioria dos sistemas convencionais, o RFP emite ondas eletromagnéticas. “Fazemos a aquisição de dados de maneira rápida, precisa e econômica, porque nosso radar não depende das condições atmosféricas e da luz do dia. Podemos mapear grandes áreas em tempo mínimo ocupando um pequeno avião por pouco tempo”, explica Moreira Neto. O preço de mercado desse radar chega a R$ 8 milhões. Ele é aerotransportado e emite ondas eletromagnéticas pulsadas ao longo da viagem e recebe o sinal de retorno pelas antenas. Com 1,2 metro de largura, 1 metro de altura, 60 centímetros de comprimento e 200 quilos, o radar fica dentro da aeronave, enquanto as antenas da banda P são posicionadas no compartimento de bagagens e as da banda X, fora do avião. O processamento de dados é automático. “O software foi desenvolvido por nós e é continuamente atualizado”, diz Moreira Neto. A Orbisat tanto vende o radar quanto presta o serviço de mapeamento. A empresa já realizou trabalhos de sensoriamento na Venezuela, Equador, Suíça, Itália e Inglaterra.
No mar e no ar
A nova versão do OrbiSar RFP também é voltada à detecção de manchas de óleo no mar. Nesse caso, o trabalho de pesquisa tem apoio financeiro da FAPESP por meio do Programa Pesquisa Inovativa na Pequena e Micro Empresa (Pipe). O projeto da antena está na fase final e é feito na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Devemos realizar o primeiro vôo no final deste ano. Nossa meta é começar a prestar serviços à Petrobras a partir de 2009”, diz o sócio-diretor da Orbisat que possui uma carta de intenção com a empresa petrolífera. “Com uma nova antena na banda X e um processamento em tempo real, será possível localizar as manchas de óleo situadas a até 100 quilômetros da aeronave. Poderemos fazer uma busca completa na bacia de Campos, que tem uma área de 90 mil quilômetros quadrados, em menos de 4 horas”, diz Moreira Neto. Esse sistema capta o movimento das ondas do mar. As freqüências eletromagnéticas enviadas pelo radar são refletidas pelas pequenas ondas formadas pelo vento. Quando existe óleo no mar, a tensão superficial aumenta, fazendo sumir as ondinhas, que não mais são captadas de volta pelas antenas.
O desenvolvimento da linha de radares de vigilância aérea Saber também conta com apoio da Unicamp. Pesquisadores da Feec são responsáveis pelo projeto da antena do modelo Saber M-60, capaz de identificar aeronaves num raio de 60 quilômetros ou que sobrevoem o equipamento a até 5 mil metros de altura. A partir daí a detecção passa para os radares de tráfego aéreo da Aeronáutica. “Na fase de pesquisa e desenvolvimento foram produzidos dois protótipos e agora, na etapa de industrialização, outros três estão sendo fabricados e entregues ao Exército brasileiro nos próximos meses”, diz o tenente-coronel Roberto Castelo Branco Jorge, gerente do projeto do radar M-60 no Exército. O valor de mercado dos radares é estimado em R$ 3 milhões.
Um software desenvolvido em conjunto pela Orbisat, Unicamp e Centro Tecnológico do Exército (CTEx) permite que o radar rastreie e forneça, em tempo real, a localização exata de até 40 alvos aéreos simultaneamente. Empresa 100% nacional, a Orbisat, criada em 1983, desenvolve projetos em engenharia eletrônica, sistemas automáticos de teste de cartões eletrônicos, controle e automação industriais e equipamentos de radionavegação. Ela insere o Brasil no seleto grupo de países que dominam a tecnologia de produção de radares, do qual fazem parte Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Holanda e França. A empresa cresceu bem nos últimos anos e hoje tem 270 funcionários – diante de 100, em 2003, quando a Orbisat foi tema da reportagem na edição de Pesquisa Fapesp nº 83, de julho de 2003.
O Projeto
Processador para detecção de manchas de óleo (nº 03/13180-5); Modalidade Programa Pesquisa Inovativa na Pequena e Micro Empresa (Pipe); Coordenador João Roberto Moreira Neto – Orbisat; Investimento R$ 318.400,00 (FAPESP)