Quem sente gosto pelos estudos prospectivos ou tão somente deleita-se com os voos da imaginação sobre o futuro tem na nova lista dos 17 Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids), anunciada pela FAPESP em 14 de maio, matéria-prima riquíssima para traçar cenários prováveis do panorama da pesquisa científica em São Paulo dentro de 10 anos. É claro que há sempre incertezas, intervenções do imponderável, além da possibilidade de mudanças de rota econômica e politicamente determinadas, a inutilizar esboços nascidos do esforço de se enxergar nas brumas do que está por vir. Mas, feita a ressalva, os US$ 680 milhões de investimentos previstos nesses centros por até 11 anos, dos quais US$ 370 milhões bancados pela FAPESP e US$ 310 milhões despendidos pelas instituições-sedes em salários pagos aos pesquisadores e técnicos envolvidos, sem dúvida desenham uma parte substantiva do que será a estrutura e as grandes linhas de força da produção de conhecimento científico neste estado, dentro de uma década. Isso parece-me razão mais que suficiente para tornar o programa dos Cepids capa obrigatória desta edição de Pesquisa FAPESP.
Cabem, nesse campo descentralizado e fervilhante de produção de novos conhecimentos que está sendo montado em território paulista, trabalhos de áreas tão distintas quanto a neuromatemática e a matemática aplicada à indústria, a neurociência e a neurotecnologia, o desenvolvimento de novas drogas e as terapias celulares, as doenças inflamatórias, a obesidade e a biomedicina, vidros e novos materiais cerâmicos, óptica e fotônica, ciência e engenharia computacional, estudos da metrópole e estudos sobre a violência, para citar algumas. Isso cria um perfil riquíssimo e multifacetado para o setor de ciência e tecnologia no estado, articulado com as grandes tendências internacionais da pesquisa e, simultaneamente, atento às mazelas locais que exigem ser compreendidas e superadas (como o fenômeno da violência contemporânea). A relacionar todos os centros está, primeiro, o imperativo de cada Cepid trabalhar na fronteira do conhecimento. E, em segundo lugar, está seu compromisso intrínseco com a criação de conhecimento, a geração de inovações que decorrem de tal conhecimento para sua efetiva apropriação social e, ainda, a difusão de tais conhecimento e inovações para a sociedade, que marca a inserção dos Cepids nas melhores políticas para a ampliação da cultura científica no país.
Já era essa a filosofia do programa dos Cepids quando ele foi iniciado em 2000, com o apoio a 11 centros até 2012, totalizando recursos investidos de quase R$ 260 milhões. Agora ela se expande, com o suporte de um dos maiores investimentos já anunciados no Brasil para programas de pesquisa bancados por agências de fomento. Vale ainda destacar aqui que os Cepids da lista recém-anunciada – nove deles efetivamente novos e oito mantidos da lista de 2000, tal qual eram ou repaginados – vão mobilizar de início 535 pesquisadores de São Paulo e 69 de outros países, um time respeitável para um esforço notável de crescimento e ampliação do impacto da ciência brasileira feita a partir de São Paulo. Muito mais detalhes estão na reportagem elaborada por nosso editor de política científica e tecnológica, Fabrício Marques.
Gostaria de destacar ainda desta edição, em nossa seção de tecnologia, a reportagem elaborada por Bruno de Pierro, editor assistente de política, sobre os investimentos em pesquisa de cana e etanol que várias empresas privadas vêm fazendo, seguindo um movimento inaugurado pela Monsanto em 2008. E recomendar o texto surpreendente de Carlos Fioravanti, nosso editor especial, sobre Paulo Vanzolini.
Boa leitura!
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