No decorrer da década de 1940, a psiquiatria hegemônica brasileira voltou-se para as inovações científicas e tecnológicas e para a sedimentação de uma visão orgânica da doença mental. Nesse contexto, Nise da Silveira pesquisou o desenvolvimento de uma prática clínica em terapia ocupacional, examinando os resultados com inteligência livre de enquadramentos limitadores. Organizou e cuidou dos espaços e tempos para o desenvolvimento das capacidades criativas, da experimentação e do aprendizado artístico dos loucos. Devido à quantidade de desenhos e pinturas e à qualidade das obras produzidas, seus ateliês adquiriram e aglutinaram grande interesse científico e artístico. O artigo Resistência, inovação e clínica no pensar e no agir de Nise da Silveira, de Eliane Dias de Castro e Elizabeth Maria Freire de Araújo Lima, da Universidade de São Paulo, mostra que o trabalho de Nise da Silveira produziu um deslocamento nas atividades realizadas como ocupações monótonas e repetitivas, mantenedoras da lógica asilar; aproximou-as das necessidades reais dos pacientes, abrindo novas possibilidades de ação e participação no mundo para essas pessoas. Sua história é referência para práticas atuais na terapia ocupacional. A partir dela arte, cultura e loucura ganham novos sentidos.
Interface – Comunicação, Saúde, Educação – v. 11 – nº 22 – Botucatu – maio/ago. 2007
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