A cada mês, abro o laptop para escrever o editorial de Pesquisa FAPESP. A luz da tela acende e o cursor pisca a cada caractere digitado. Crio o arquivo “editorial_XXX”, que salvo em um serviço de armazenamento virtual – mas que demanda uma estrutura física como a retratada na capa desta edição, localizada possivelmente a milhares de quilômetros de distância. Consulto as reportagens que irão compor o número, hospedadas em outra nuvem, e faço buscas na internet para checar palavras, conceitos, referências. Envio o texto por uma plataforma on-line de gerenciamento de projetos para a leitura dos colegas e depois para a revisão, por e-mail. Junto às demais 99 páginas da edição, o arquivo final é transferido para os servidores da gráfica, que irá imprimir exemplares físicos como o que possivelmente está em suas mãos.
Atividades como essa ocorrem bilhões de vezes por dia, e unitariamente consomem pouca energia (se o editorial fosse produzido por uma ferramenta de inteligência artificial generativa, o dispêndio seria maior). Mas a soma de tudo, em um mundo crescentemente digital, onera cada vez mais o planeta. Estima-se que entre 5% e 9% de toda a energia elétrica consumida no mundo seja destinada à infraestrutura das tecnologias da informação e comunicação. O gasto vem da operação dos equipamentos e da necessidade de mantê-los refrigerados, o que por sua vez demanda volumes expressivos de água. O editor de Tecnologia da revista, Yuri Vasconcelos, mostra esse lado pouco conhecido da realidade digital e apresenta uma emergente área de pesquisa, chamada de computação sustentável, que procura caminhos para reduzir impactos ambientais da computação no mundo.
O Brasil tem mais de 23 mil cavernas cadastradas no Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas, muitas das quais foram mapeadas por Ivo Karmann, da USP. Ele explica que o estudo dessas cavidades naturais exige o mapeamento do sistema de circulação das águas da região, elemento essencial para a dissolução e a corrosão das rochas. Bem-humorado, Karmann se define como geólogo do nada, dado que se dedica a explicar a ausência, e não a presença, de rocha.

Arquivo pessoalTime Coqueiros (c. 1962) em campo de uma área fabril de Santo André (SP); Queiroz é o primeiro à direita, em péArquivo pessoal
Onomástica é a área que estuda outro tipo de formação, a dos nomes próprios. A investigação da origem de nomes de pessoas e lugares compõe um campo da linguística que é interdisciplinar. Reúne, por exemplo, elementos de geografia, história, direito e psicologia. Reportagem conta a gênese desse ramo do conhecimento, revelando que a prática brasileira de juntar partes de nomes próprios pessoais para criar resultados originais advém de um padrão germânico herdado via colonização portuguesa.
Desde pequeno, Lourenço Queiroz jogava futebol de várzea, integrando um time regular aos 13 anos. O campinho do bairro ficava próximo a uma área fabril em Santo André, na Grande São Paulo. As empresas da região costumavam apoiar os times, comprando uniformes, bolas e organizando campeonatos. Lourenço conta que essa era a diversão do final de semana, embora as partidas fossem levadas muito a sério. Havia torcidas, brigas, desafetos e placares inesquecíveis. Muitos desses campos não existem mais, tendo dado lugar a edifícios residenciais e comerciais. Mais de 60 anos depois das divididas de bola do pai, nossa repórter Christina Queiroz escreve sobre as transformações do futebol de várzea diante do crescimento urbano.
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