O projeto do Porto Digital começa a sair do papel e mudar o cenário do Recife Antigo, à beira do rio Capibaribe, bairro que deu origem à cidade, há 464 anos. Armazéns antigos e sobrados coloniais da zona portuária, no passado prostíbulos, estão sendo ocupados por empresas de informática e telecomunicações. Cerca de 250 delas deverão instalar-se no bairro até 2005, movimentando R$ 400 milhões.
O projeto, lançado no ano passado, receberá do Estado de Pernambuco investimentos da ordem de R$ 33 milhões, obtidos com a privatização da Companhia Energética de Pernambuco (Celpe), a antiga estatal de energia elétrica. Desse total, R$ 23 milhões estão sendo aplicados na reurbanização do bairro. Outros R$ 10 milhões financiarão empresas.
O governo já depositou R$ 5 milhões no Fundo de Capital de Risco, que começará a operar em agosto e que deverá ter outros R$ 5 milhões de parceiros privados, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Mais R$ 10 milhões alimentarão o Fundo de Capital Humano, destinado a formar recursos humanos e importar pesos pesados da informática para os quadros das empresas. “Não somos um pólo tecnológico comum, mas uma plataforma de negócios”, explica Cláudio Marinho, secretário de Ciência e Tecnologia de Pernambuco, idealizador do projeto.
O setor de informática faturou R$ 300 milhões no ano passado, em Pernambuco, crescendo 8%. Somando-se o setor de telecomunicações, o mercado total gira em torno de R$ 1,3 bilhão. Isso representa mais de 60% do PIB agropecuário, atividade econômica mais tradicional da região. O fôlego vem das universidades, criadoras de talentos. Oito delas formam cerca de mil alunos em computação, todos os anos.
Uma das mais conceituadas do País, o Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) tem 50 doutores e 300 alunos cursando pós-graduação. Até bem pouco tempo atrás, o destino dessa mão-de-obra eram empresas do Centro-Sul e até do exterior, como a sede da Microsoft nos Estados Unidos, freqüente recrutadora de profissionais pernambucanos. Criado há cinco anos, o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar) inverteu o êxodo, ao identificar parceiros comerciais e desenvolver tecnologias capazes de configurar bons e lucrativos negócios.
Já maduro, atualmente com mais nove projetos prestes a chegar ao mercado, o Cesar é um dos propulsores do Porto Digital. Toda a sua estrutura administrativa e operacional está sendo transferida para um sobrado do século 19, no Recife Antigo. O atual prédio da Capitania dos Portos, da Marinha, será ocupado pelos laboratórios de pesquisa e pós-graduação do Centro de Informática da UFPE. O Softex, incubadora de 34 pequenas empresas de software voltadas para exportação, será transferido para as instalações de uma antiga indústria gráfica, ao custo de R$ 6 milhões. Os armazéns do Porto do Recife estão sendo adaptados para receber o Centro de Negócios e Tecnologia da Informação, uma espécie de shopping center digital com mais de 30 empresas.
A idéia é criar um espaço de convivência entre patrimônio histórico e tecnologia moderna. Cerca de R$ 19 milhões foram investidos, nos últimos anos, na revitalização do bairro e na urbanização da favela do Rato, que cresceu nas ruínas portuárias.Em cinco anos, o número de pessoas que trabalham no bairro deverá aumentar de 11 mil para 16 mil, atraindo restaurantes, hotéis e outros serviços de apoio. Até o próximo ano, 100 empresas tecnológicas já deverão estar funcionando no Recife Antigo.
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