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Análise química

Olhar profundo

Inovação reduz tempo gasto na avaliação de substâncias de amostras

EDUARDO CESAREspectrofotômetro faz leituras químicas em todos os comprimentos de onda do espectroEDUARDO CESAR

Em menos de cinco segundos, é possível detectar a presença de algas na água potável ou avaliar se um medicamento contém exatamente os compostos anunciados, como vitaminas ou cafeínas, além de saber a quantidade de cada um deles. A rapidez resulta de uma inovação chamada de varredura espectral, desenvolvida para os espectrofotômetros, instrumentos que fazem a análise química por meio da interação da radiação eletromagnética com a matéria. Esse mecanismo permite fazer a leitura em todos os comprimentos de onda, na faixa do espectro que vai do ultravioleta ao infravermelho, enquanto os outros equipamentos só atuam em um único comprimento de onda.

O desenvolvimento dessa tecnologia colocou a Femto, uma empresa familiar instalada em São Paulo, na disputa por um mercado antes ocupado apenas pelas multinacionais. Entre outras aplicações, o instrumento vai atender à crescente demanda da indústria de fármacos, setor hoje bastante pressionado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão do Ministério da Saúde, para um controle eficiente da estabilidade dos princípios ativos dos medicamentos.

Batizado de 800XI, o espectrofotômetro com lâmpada pulsada de xenônio, desenvolvido com apoio da FAPESP por meio do Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (PIPE), está fazendo sucesso desde que foi lançado no ano passado. Mais de 30 aparelhos já foram vendidos nas licitações de que a empresa participou, garantindo faturamento da ordem de R$ 500 mil, 25% da receita total obtida em 2002. Para conseguir chegar a esse resultado, a Femto entrou em concorrências feitas por universidades, centros de pesquisas e indústrias com preço inicial de R$ 11 mil por aparelho, sem nenhum acessório, até R$ 25 mil, no formato mais completo. Os importados com o mesmo nível de tecnologia custam cerca de R$ 50 mil.

Além da alta resolução, o modelo 800XI traz um software desenvolvido no Brasil para o tratamento matemático das informações. É equipado com um display gráfico e dispõe de conexão com um computador para tratamento do sinal e dos dados. A lâmpada pulsada de xenônio substitui o par deutério/tungstênio-halogênio, usado normalmente nesses aparelhos, com a vantagem de não necessitar de partes móveis como nos antigos, além de obter melhor nível de sinal e isolar a luz ambiente do compartimento de amostra.

A fabricante não vai deixar de produzir instrumentos com tecnologia monofeixe – em que a análise é feita por meio de um único comprimento de onda -, nicho abandonado pelas grandes multinacionais, como Perkin Elmer, Varian e Shimadzu. Mas pretende disputar o mercado de tecnologia média com fabricantes da Coréia, França, Inglaterra e Austrália não só no Brasil, mas até mesmo no exterior. E, dentro de alguns anos, entrar no seleto grupo que fabrica instrumentos de tecnologia extremamente avançada, que envolve detectores, amplificadores e conversores com velocidade na ordem de nanossegundos, que somente países como Estados Unidos e Japão detêm.

Credenciais para isso a empresa vem acumulando até mesmo antes da inauguração da Femto, em 1989. Lídio Kazuo Takayama, que divide a sociedade da empresa com os dois irmãos, Francisco e Mary, ajudou a montar o primeiro espectrofotômetro do Brasil quando ainda era estudante de Física na Universidade de São Paulo, em 1975. De lá para cá, sempre investiu no desenvolvimento desse tipo de equipamento, que consegue detectar e quantificar elementos como cloreto, ferro e silício na água; cianeto, sulfeto e amônia em águas efluentes. Também pode ser aplicado na bioquímica clínica e molecular.

O crescimento da Femto sempre foi sólido e feito com recursos próprios. Mas, para garantir o salto tecnológico, Lídio recorreu ao PIPE. A parceria foi iniciada em 1998, quando a empresa obteve financiamento para viabilizar o projeto Estação de Trabalho Espectrofotométrica , um equipamento de análise totalmente automatizado, com recursos de robótica.

Hoje, a Femto é líder brasileira no setor e vende mais de 200 equipamentos por ano, com faturamento de R$ 2 milhões, em um mercado interno que consome entre 500 e 750 unidades anuais. Mesmo conquistando uma boa fatia, a empresa trabalha no desenvolvimento de um espectrofotômetro de fluorescência com duplo monocromador de varredura contínua, baseado em lâmpada pulsada de xenônio, também financiado pela FAPESP. Esse aparelho está na fase de protótipo e detecta concentrações muito baixas de determinados elementos, como a aflatoxina, fungo tóxico e cancerígeno que se desenvolve em alimentos, como no amendoim. Outros mercados serão os de fármacos e na área ambiental.

Ao mesmo tempo, a Femto começa a planejar o desenvolvimento de outros equipamentos. Um deles é o espectrofotômetro de absorção atômica com atomizador eletrotérmico baseado em filamento de tungstênio, que terá, entre outras aplicações, sensibilidade para detectar o nível de chumbo no sangue ou a presença de alumínio em fluidos de hemodiálise. O estudo conta com a parceria do professor Francisco Krug, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), da USP. Outro projeto que também está nos planos imediatos da empresa é o Laser Induced Breakdown Spectroscopy (espectrofotometria baseada na atomização e excitação da amostra com laser). A parte acadêmica caberá ao professor Célio Pasquini, do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O laser elimina a necessidade da dissolução da amostra e, portanto, produz menos descarte de reagentes para o meio ambiente, além de ser mais rápido e mais prático. Essa tecnologia está disponível há apenas dois anos no mercado mundial.

A Femto pretende deter essa inovação em quatro anos. “Com isso o Brasil estaria apenas com seis anos de atraso em relação ao movimento mundial, em comparação com os 20 a 30 anos de atraso com que as novas tecnologias são conquistadas hoje no mercado nacional.” A ambição de Lídio Takayama vai além: quer entrar nos setores de óptica biomédica e fotomedicina, considerados por ele o mercado futuro da espectrofotometria.

O Projeto
Espectrofotômetro Baseado em Lâmpada Pulsada de Xenônio e Sensor de Imagem Linear (nº 00/07494-9); Modalidade Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (PIPE); Coordenador Lídio Kazuo Takayama – Femto; Investimento R$ 188.278,00 e US$ 2.543,83

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