A comunidade de astrofísicos de São Paulo deseja já há muito tempo aumentar a produção científica e o tamanho da pós-graduação na área, obter mais horas de observação nos principais telescópios do mundo e conseguir maior inserção e reconhecimento internacional. Embora essas aspirações venham se realizando, agora o objetivo é ir além: espera-se um salto qualitativo sem precedentes com o desenvolvimento de projetos realizados em parceria com consórcios de universidades do exterior e a participação em observatórios em construção ou expansão na América do Sul e na Europa. Para tanto, a FAPESP investirá cerca de R$ 200 milhões nos próximos 10 anos, que deverão propiciar as condições para tornar São Paulo um polo internacional de astronomia.
A estratégia é unir-se aos que melhor fazem astrofísica no mundo e dividir com eles o custo de empreendimentos caros. Foi o que fizeram os pesquisadores de São Paulo ao fechar um acordo em torno de quatro grandes projetos que garantem a participação dos astrônomos em trabalhos na fronteira do conhecimento sobre os quais pouco se sabe, como, por exemplo, a natureza da matéria e da energia escuras. O Giant Magellan Telescope (GMT), de 24,5 metros – que será o maior telescópio terrestre em 2021, quando ficará pronto –, o Cherenkov Telescope Array (CTA), o Javalambre Physics of the Accelerating Universe Astrophysical Survey (J-PAS) e o Large Latin American Milimeter Array (Llama) são projetos de pesquisa ambiciosos, nos quais o Brasil entra como parceiro de vários países.
Os astrofísicos paulistas representam um terço da comunidade no país e respondem por 50% da produção científica da área. Além das quatro iniciativas citadas, há várias outras, que também recebem financiamento da FAPESP e de outras agências de fomento. Ao olhar o conjunto de projetos, é fácil ver que todos contribuirão para o avanço do setor. Uma das boas consequências de todo esse investimento é o fato de que o país estará bem aparelhado para fazer boa ciência astronômica pelos próximos 15 anos, segundo avaliam os pesquisadores. O editor especial Marcos Pivetta conta essa história.
Outro investimento que traz contribuições relevantes para a pesquisa científica é a multiplicação de projetos de digitalização de acervos de bibliotecas, arquivos e museus, relata o editor de Política, Fabrício Marques. O que só era possível conhecer por meio de visitas agendadas, in loco, hoje se faz com tranquilidade a distância. Não há novidade nisso – o que é novo é o resultado desse esforço. A disseminação dos acervos digitalizados facilita o trabalho do pesquisador, potencializando a qualidade da busca ou permitindo conhecer remotamente a amplitude dos documentos disponíveis. Os novos pesquisadores já estão sendo formados nesse contexto de maior acesso às informações.
As facilidades da comunicação trazem também notícias pouco alvissareiras. Estudo realizado por centros de pesquisa do Brasil e da Suíça utilizando imagens de satélite indica que a Caatinga perdeu 9 milhões de hectares de vegetação nativa entre 1990 e 2010. O desmatamento está associado à agropecuária e ao uso de madeira como fonte de energia em residências e indústrias, conta o editor especial Carlos Fioravanti. Dos seis biomas brasileiros, a Caatinga está entre os que recebem menos atenção, embora sua área se estenda por 10 estados, quase todos no semiárido nordestino. Talvez esse trabalho ajude a jogar luz sobre a rica diversidade biológica da região e as transformações pelas quais tem passado.
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