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Carta da editora | 335

Precisa-se de medicamentos

Nos anos 1930, o farmacologista fluminense Paulo Seabra desenvolveu uma formulação de sal de cobre (morruato cúprico coloidal) que, aplicado intravenosamente, era utilizado no tratamento da tuberculose. Comercializado sob o nome de Gadusan, chegou a ser exportado. Com a descoberta da estreptomicina, o primeiro antibiótico eficaz contra a chamada peste branca, o tratamento caiu em desuso e deixou de ser fabricado.

Antecipada por Alexander Fleming e observada com o uso disseminado desses remédios, a resistência aos antibióticos é um desafio. A luta contra os microrganismos que escapam à ação dos fármacos se tornou, nas palavras do editor de ciências biomédicas de Pesquisa FAPESP, Ricardo Zorzetto, um pesadelo mundial. Esse desafio motiva a pesquisa de novos antimicrobianos, ou de medicamentos de outra classe, como o que fora desenvolvido por Seabra.

São vários os fatores que levam ao desenvolvimento dessa resistência, responsável pela morte de milhares de pessoas por ano no país. Reportagem de capa mostra que o uso intensivo na saúde humana e no tratamento ou na engorda de animais de criação faz esses compostos chegarem ao ambiente, expondo as bactérias a doses que são insuficientes para seu extermínio. Assim, uma parte pode sobreviver e se multiplicar, acumulando alterações no material genético que permitem esquivar a ação dos fármacos.

O enfrentamento desse problema demanda abordagens complementares, como a prescrição e aplicação responsável dos antibióticos, a vacinação e o desenvolvimento de novos tratamentos. Um obstáculo importante é o foco da indústria farmacêutica em medicamentos lucrativos.

Na pesquisa sobre fármacos, o uso de inteligência artificial e modelagem computacional reduz o tempo dedicado à triagem de novos compostos. Outros avanços que auxiliam a testagem de novos medicamentos são os tecidos humanos reconstituídos. As bioimpressoras permitem a criação de estruturas tridimensionais com células vivas, moléculas e materiais biocompatíveis. Um dispositivo chamado body-on-a-chip é usado para preparar tecidos de pele e intestino para avaliar a toxicidade de produtos em desenvolvimento.

A atividade jornalística leva à cobertura de temas que causam preocupação. Os microrganismos resistentes a antibióticos dividem a edição com reportagens inquietantes, mas necessárias. Uma é sobre o acordo importante, mas insuficiente, alcançado na COP 28. Outras são a catástrofe de Maceió, cidade em que bairros afundam em consequência da mineração de sal, e o registro da transformação da Caatinga. Apenas 11% da vegetação típica do bioma não foram alterados pela ação humana, principalmente por meio da atividade agropecuária.

Há, entretanto, espaço para histórias de vidas dedicadas ao fazer científico, em suas mais variadas formas e por diferentes processos. O diplomata Alberto da Costa e Silva conciliou suas atividades profissionais com seu interesse pela África, tendo se tornado referência para historiadores. É praticamente impossível atuar ou se interessar pela divulgação científica no Brasil sem ter se deparado com Ennio Candotti, físico que liderou a SBPC e criou o Museu da Amazônia. A paralisia infantil aos seis meses influenciou a escolha profissional do médico Sandro Matas, que se dedica a tornar a sua instituição, a Unifesp, mais inclusiva. A ciência nos meios audiovisuais está presente em reportagens sobre festivais de cinema e tiktokers que abordam esse universo por meio de entretenimento.

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