Daniel BuenoA Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), a maior e mais antiga do país, começou a discutir um conjunto de normas para apurar e punir deslizes éticos de seus professores e pesquisadores. A tarefa está a cargo de dirigentes da universidade, e é uma resposta a um imbroglio envolvendo um casal de pesquisadores da Unam que manipulou imagens de 11 artigos científicos, cuja punição, contudo, acabou sendo suspensa por irregularidades na investigação. Os microbiologistas Mario Soberón e Alejandra Bravo, do Instituto de Biotecnologia (IBt) da Unam, foram denunciados e admitiram, em 2012, a modificação de imagens de testes em artigos sobre as toxinas do Bacillus thuringiensis (Bt), usadas como inseticida na agricultura. “Eles argumentaram, contudo, que as mudanças tiveram efeito apenas cosmético, para melhorar a compreensão das imagens”, disse ao blog ScienceInsider, da revista Science, o ex-diretor do IBt Carlos Arias. Uma comissão externa de sindicância formada para apurar o caso concluiu que, em pelo menos dois artigos, os detalhes apagados das imagens constituíam uma manipulação “inapropriada e repreensível”. Mas o painel de especialistas também concluiu que as modificações não comprometiam as conclusões dos artigos, não havendo necessidade de retratá-los. A punição aos pesquisadores foi severa. Soberón teve de renunciar à chefia do Departamento de Microbiologia Molecular e sua mulher foi rebaixada de “líder acadêmica” para “pesquisadora associada”.
A comunidade científica dividiu-se em relação à punição. O caso, acompanhado de perto pela imprensa mexicana, foi apontado como um marco na punição a desvios de conduta no ambiente científico, mas pesquisadores influentes saíram em defesa do casal. Juan Ramón de la Fuente, decano da Unam entre 1999 e 2007, considerou os dois pesquisadores “vítimas de suspeita exagerada” e alvo de “inveja” de colegas.
Em outubro, o ombudsman da Unam, Jorge Carmona, decidiu suspender a punição, por considerar que foi severa demais para o desvio cometido e por constatar que houve irregularidades na apuração do caso. Um dos denunciantes do casal participou da primeira fase da apuração, o que foi considerado inapropriado. Segundo Carmona, os dois não tiveram oportunidades adequadas de se defender durante a investigação e sofreram danos à reputação causados pelo vazamento seletivo de dados sobre a apuração. A necessidade de estabelecer regras tornou-se premente, diz Agustín López Munguía, secretário acadêmico do IBt na época em que a denúncia foi feita. “Não existem procedimentos definidos na universidade para lidar com problemas desse tipo”, afirma.
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