As mulheres ainda são minoria entre os quase 5 mil docentes da Universidade de São Paulo (USP). Para cada dois homens que lecionam na universidade, há apenas uma mulher. Mas uma delas, pela primeira vez nos 71 anos de história da instituição, vai dirigir a maior universidade pública brasileira. Suely Vilela Sampaio, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP), foi nomeada reitora pelo governador Geraldo Alckmin, no dia 23 de novembro. Pró-reitora de Pós-graduação na gestão de Adolpho Melfi, Suely, 51 anos, foi a segunda colocada no primeiro turno da eleição, apenas 14 votos atrás do então vice-reitor, Hélio Nogueira da Cruz. Mas tomou a liderança no segundo turno, que definiu a lista tríplice encaminhada ao governador, no qual votam apenas os membros do Conselho Universitário e dos conselhos centrais. “A escolha representa o espaço importante da mulher na sociedade moderna”, elogiou Alckmin.
A nova reitora anunciou que sua grande prioridade será o fortalecimento da graduação e disse que um dos seus maiores desafios será ampliar a presença de estudantes das escolas públicas na universidade. Não será, já alertou, por meio de cotas, mas sobretudo por medidas que ajudem os alunos carentes a se preparar para o ingresso na USP. Uma das metas é ampliar o número de vagas noturnas. “Nos últimos anos, houve um aumento considerável no número de vagas. Mas não avançamos o suficiente para garantir a diversidade dos nossos alunos”, afirmou Suely. No último vestibular, a USP ofereceu 9.952 vagas, contra 7.811 em 2001. Mas apenas 20% dos aprovados eram egressos do ensino público. Também planeja ampliar o caráter internacional da USP. “É preciso dar mais mobilidade aos docentes, para realizar estágios ou pesquisas com profissionais de fora.”
Suely acredita que foi eleita pela comunidade da USP por conta de suas ações recentes, desenvolvidas na pós-graduação da universidade. “Sempre houve um diálogo com professores e alunos e todos os temas eram colocados em votação somente depois de estarem bem discutidos e aceitos”, afirmou. “Fui eleita pelas idéias e propostas, não por ser mulher ou de um campus do interior, mas esta escolha representa uma mudança de paradigmas na USP.” Ela deve anunciar os nomes de seus pró-reitores no dia 20 de dezembro.
Nascida em 1954 numa fazenda em Ilicínea, interior de Minas Gerais, Suely fez toda a formação superior na USP de Ribeirão Preto, desde a graduação em farmácia e bioquímica, concluída em 1975, mestrado em 1980, doutorado em 1985, até o pós-doutorado em 1990 e livre-docência em 1991. Desde 1996 é titular do Departamento de Análises Clínicas, Toxicológicas e Bromatológicas da FCFRP. A partir de 2002 assumiu a pró-reitoria de Pós-graduação. Sua carreira científica foi dedicada a pesquisas na área de toxinas, principalmente venenos de serpentes.
Professora colaboradora da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Suely atuou como professora visitante na Université de Nice (França) em 1993, Universidade do Chile (1996), Universidade da Costa Rica (1997), University of London (Inglaterra), em 1999, Università Degli Studi – Parma (Itália), Universidad de La Habana (Cuba), Rutgers University (EUA), Universidad de Barcelona (Espanha) e Ohio University (EUA) em 2004. Divorciada, tem um filho, um advogado de 24 anos. Mantém dois endereços: um flat em São Paulo e uma casa em Ribeirão Preto.
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