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Publicações científicas

SciELO, um modelo reconhecido

Biblioteca virtual amplia visibilidade da ciência brasileira

O programa Scientific Eletronic Library on-line (SciELO), biblioteca virtual que reúne 93 jornais e revistas científicas produzidas no Brasil e na América Latina, começa a dar visibilidade para grande parte das pesquisas divulgadas em publicações nacionais, até recentemente inacessíveis à comunidade internacional. Prova disso é que a edição 415 da revista Nature, de 31 de janeiro deste ano, traz carta assinada por dois pesquisadores do Departamento de Zoologia da Universidade de Oxford – Wladimir J. Alonso e Esteban Fernández-Juricic -, em que defendem a implementação de redes regionais de acesso rápido, como o SciELO, para ampliar a comunicação dos pesquisadores de países em desenvolvimento.

O argumento dos pesquisadores se apóia na avaliação do desempenho de cinco jornais e revistas brasileiras indexados, há cinco anos, no Institute for Scientific Information (ISI), que, depois de incorporados ao SciELO, há dois anos, tiveram aumento de 132,7% nos seus fatores de impacto. Esse indicador é medido pelo número de artigos publicados num ano, dividido pelo número de vezes em que eles foram citados por outra revista.

Maior visibilidade
O SciELO é um programa especial da FAPESP desenvolvido em parceria com o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciência da Saúde (Bireme) e apoio do Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Foi implementado em 1997, com a intenção de aumentar a visibilidade e acessibilidade de publicações científicas brasileiras que, em sua maioria, não estão indexadas em bases de dados internacionais. Apenas 22 revista brasileiras estão entre os cerca de 6 mil títulos indexados no ISI, por exemplo.

O reconhecimento de que existia um nicho de pesquisadores que não tinham possibilidade de se comunicar internacionalmente foi reforçado pela publicação do artigo Ciência Perdida no Terceiro Mundo (Lost Science in the Third World), de W. Wayt Gibbs, publicado na revista Scientific American 273, em 1995, em que ele constata que pesquisas importantes não incluídas em bases de dados internacionais, por não serem referenciadas, acabavam invisíveis. “Foi daí que surgiu a idéia de tornar essa produção mais visível e, ao mesmo tempo, criar uma base de dados para publicações nacionais”, conta Rogério Meneghini, coordenador do Centro de Biologia Molecular Estrutural (CBME) do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), coordenador do SciELO na FAPESP e um dos idealizadores do programa.

O SciELO tomou forma num encontro entre Meneghini, professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, e Abel Packer, diretor da Bireme, atualmente coordenador operacional do programa. A Bireme já realizava o controleinstitucional de produção científica na área da saúde, mas a instituição tinha planos de implementar uma publicação eletrônica para facilitar a localização e indexação dos artigos científicos. O SciELO começou em escala piloto, com poucas revistas, mas, rapidamente, tornou-se referência obrigatória entre pesquisadores de diversas áreas.

O número de visitas mensais, por exemplo, saltou de menos de dez, em fevereiro de 1998, para algo próximo de 10 mil, em 2001, número que deverá ser ultrapassado em fevereiro deste ano (ver quadro abaixo). “Estamos chegando a uma massa crítica de resultados para avaliar o impacto das publicações aqui no Brasil”, adianta Meneghini. Ele credita o sucesso do SciELO às circunstâncias favoráveis em que vive a ciência brasileira e cita como exemplo o aumento dos recursos destinados à pesquisa e à institucionalização da pós-graduação. “Para avançar é preciso ter boa ciência.”

Seleção criteriosa
Atualmente, o modelo de comunicação científica adotado pelo SciELO já está implantado também no Chile e em Cuba, com o apoio da Bireme e de agências de fomento locais. Em breve, também estará sendo implementado na Costa Rica, na Espanha, em Portugal, no México e na Venezuela. Ao todo, já estão disponíveis, on-line e gratuitamente, 98 publicações científicas. “Até o final do ano esperamos chegar a 300”, prevê Packer. No Brasil, o SciELO conta com 67 títulos selecionados entre as cerca de mil publicações científicas brasileiras. “O programa deverá atingir a sua maturidade no final do ano, quando deveremos chegar a cem publicações”, prevê Packer.

“Nesse momento, o programa passará a ser utilizado por agências de fomento para medir a comunicação, utilizando indicadores específicos por revista e por instituição”, completa. O critério de seleção dos títulos que integram o acervo do SciELO é rígido, já que a grande maioria das revistas e jornais científicos publicados no Brasil não cumpre os requisitos de qualidade de conteúdo, de originalidade das pesquisas e tampouco tem regularidade garantida, comenta Packer. Os títulos candidatos a ingresso são avaliados por um comitê consultivo e aprovados por pares. Os indicadores utilizados para a sua admissão aplicam-se também para a avaliação de sua permanência na SciELO.

Metodologia do programa
O modelo SciELO é formado por três componentes. O primeiro é a metodologia que permite a publicação eletrônica de edições completas, a organização de dados bibliográficos, a produção de indicadores. Inclui ainda, critérios de avaliação de revistas, baseado em padrões internacionais de comunicação científica. Os textos completos podem ter links de hipertexto com bases de dados nacionais e internacionais. O segundo componente do modelo é a aplicação da metodologia na operacionalização de sites na web de coleções de revistas eletrônicas, como aqueles que já operam no Brasil, Chile e Cuba.

O terceiro é o desenvolvimento de alianças entre autores, editores, instituições científico-tecnológicas, agências de financiamento, entre outros, com o objetivo de disseminar e atualizar a SciELO. “A carta da Nature é a maior evidência na literatura internacional de que a SciELO está cumprindo seus objetivos”, conclui Packer.

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