As baleias em geral emitem variadas seqüências de sons, que lembram cantos. Mas as únicas capazes de cantar mesmo são as baleias-jubartes, segundo o zoólogo Jacques Vielliard, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Seus sons compõem seqüências melódicas de 20 minutos, em média, quase uma sinfonia", afirma o pesquisador, especialista em bioacústica. Entre julho e novembro de 2000, Vielliard e o biólogo Eduardo Arraut passaram dias em um pequeno barco no arquipélago de Abrolhos, litoral da Bahia, para gravar o canto das baleias-jubartes (Megaptera novaeangliae) – mamíferos marinhos de até 16 metros de comprimento e 50 toneladas, também conhecidos como baleias-corcundas por causa da forma do dorso.
As cinco horas de canto registradas são compostas por 20 ciclos de canções, com duração de 6 a 35 minutos cada. No período de reprodução, as jubartes migram das águas frias do Atlântico Sul, onde se alimentam de plâncton, pequenos peixes e crustáceos, para as águas quentes da costa brasileira, em especial Abrolhos. Chamadas de baleines chanteuses pelos franceses, as jubartes fazem cortejos longos e elaborados. Enquanto as fêmeas cuidam dos filhotes, os machos se isolam em grandes círculos, com quase 10 quilômetros de diâmetro.
Com a cabeça mergulhada n’água e a cauda suspensa no ar, como se plantassem bananeira, permanecem horas cantando na expectativa de seduzir uma parceira, a exemplo das mitológicas sereias. Na análise das gravações, publicada nos Anais da Academia Brasileiras de Ciências, Vielliard e Arraut identificaram cinco temas diferentes, compostos por frases de extensão variável e 24 notas distintas – de longas notas graves semelhantes a mugidos (huuummmm) às mais agudas (fiiiiii) ou curtas (táá-tá-tá-tá).
As populações de baleias-jubartes se distribuem ao redor do planeta, mas cada grupo tem um canto característico, uma espécie de dialeto – o canto dos outros grupos estudados é composto por 16 a 20 notas diferentes. As jubartes da costa brasileira são mais musicais: produzem maior variedade de notas e temas, diz Vielliard. Isso torna possível, em teoria, identificar uma jubarte brasileira entre as que se reproduzem na costa da África.
Segundo o zoólogo, uma característica distingue as jubartes dos outros animais – os seres humanos inclusive. Quando um indivíduo se une a um novo grupo, os membros do grupo passam a imitar as novidades da canção estrangeira, como se os norte-americanos aprendessem a língua de um visitante brasileiro. Essa característica talvez influencie na escolha do seu parceiro pelas fêmeas, que selecionariam os machos com maior capacidade de aprender e inovar, sugerem os pesquisadores.
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