Pesquisadores da pós-graduação em Políticas Públicas da Faculdade de Educação da USP estão trabalhando para melhorar o atendimento aos cegos, surdos e deficientes físicos que freqüentam escolas de Campinas (sendo apenas 20% deles na rede pública). Em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, e apoio da FAPESP, desenvolvem projeto que prevê a elaboração de dois vídeos e que visa a aperfeiçoar a formação de professores em educação especial (são 190 no município), aumentando ao mesmo tempo o número de alunos dos atuais 256 para 2 mil. Junto ao setor educacional o objetivo é atender melhor às especificidades de cada deficiência. “Pode parecer muito pretensioso, mas achamos que temos respaldo para isso”, diz a coordenadora, professora Lisete Regina Gomes Arelaro, contando com o suporte da secretaria.
A equipe pretende convencer os deficientes, seus familiares e a sociedade em geral da qualidade do ensino público e envolvê-los num processo de integração – que é o mais importante da pesquisa. “Não basta apenas matricular o deficiente na rede”, salienta Lisete. O que caracteriza o projeto é a atuação de várias secretarias – começando pela Educação e englobando Cultura, Obras, Esportes – e também dos cidadãos em geral. Por isso, ela destaca duas finalidades que se complementam: a melhoria do ensino e uma nova visão da comunidade sobre os deficientes – que contribua para o aumento da auto-estima deles. Cada um desses aspectos será tratado num documentário, do qual participarão portadores de deficiência, familiares, funcionários de entidades assistenciais de cegos e autistas, professores.
“Hoje os deficientes são clandestinos na própria cidade. Não freqüentam parques, quase não saem de casa. As pessoas não estão preparadas para conviver com os portadores de deficiência e eles, por sua vez, encolhem-se, acabam formando guetos”, avalia Lisete. Embora Campinas tenha problemas, como a inadequação da maioria dos locais públicos, há muitos pontos positivos. “Campinas é uma cidade rica, com oito praças públicas só no centro, onde os cegos, surdos, autistas poderiam passar mais tempo junto à natureza; tem até uma biblioteca especializada em braile”.
O preconceito, conclui, dificulta o uso desses espaços. A segunda fase do projeto vai até novembro do ano que vem. Os vídeos, que terão entre oito e dez minutos, serão divulgados em jornais, rádio, televisão e outdoors. “Queremos provocar os moradores de Campinas, despertar o interesse deles pela questão.”
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