O Biota-FAPESP divulgou um balanço de sua primeira década de existência num dos mais renomados periódicos científicos de circulação internacional. Em artigo publicado na revista norte-americana Science de 11 de junho, sete pesquisadores brasileiros fizeram um resumo dos principais resultados obtidos entre 1999 e 2008 pelo programa paulista e destacaram a importância que a iniciativa teve para a pesquisa, a formação de pessoal e a formulação de políticas públicas na área de biodiversidade no estado de São Paulo. Ocupando uma página e meia na seção Policy Forum, o texto ressaltou também o fato de que o Biota se tornou um modelo para a implantação de projetos semelhantes em outros estados do país e no exterior. “O CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] está planejando um projeto similar e, no início deste ano, a National Science Foundation [dos Estados Unidos] lançou o programa Dimensions of Biodiversity”, diz Carlos Joly, do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), coordenador do Biota e primeiro autor do artigo. “Entre 2004 e 2006 alguns coordenadores desse programa tiveram muito contato com os trabalhos do Biota.”
Para Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, o Biota é um dos programas mais bem-sucedidos da Fundação. “Ao lado de criar ciência da mais alta qualidade, o Biota tem gerado impactos muito importantes nas políticas públicas para conservação no estado de São Paulo e tem sido considerado um modelo para outros programas do mesmo tipo no Brasil e fora.”
Os números alcançados pelo programa paulista em 10 anos são impressionantes. Cerca de 1.200 pesquisadores e estudantes participaram de 94 projetos do Biota, dos quais 20 ainda estão em andamento. A maioria dos cientistas era do estado de São Paulo, mas pelo menos 100 colaboradores eram de outros estados do Brasil e 80 do exterior. Foram descritas mais de 1.800 novas espécies da fauna e da flora, e dados sobre outras 12 mil espécies já conhecidas pela ciência foram coletados e arquivados em 35 grandes coleções biológicas que podem ser consultadas on-line. Desde 2001 o programa mantém uma revista científica eletrônica, Biota Neotropica, que é indexada por bases de dados internacionais. Lançada em 2002, a iniciativa BIOprospecTA, de procura de novas moléculas da natureza que tenham interesse econômico, resultou em três patentes. Uma dessas moléculas está na fase de testes pré-clínicos (in vitro e em animais de laboratório) para averiguar seu potencial para o tratamento do mal de Alzheimer.
Além de produzir uma enorme quantidade de informação técnica para ser usada por outros cientistas, o Biota teve a rara preocupação de elaborar sínteses de seus dados mais importantes na forma de mapas, fáceis de serem entendidos pelas autoridades responsáveis pela formulação da política ambiental e de conservação da biodiversidade. Dois desses mapas, sobre as regiões prioritárias para a restauração e conservação da biodiversidade, foram adotados pelo estado de São Paulo como parâmetro legal para guiar suas ações e diretrizes nesse campo, inclusive para a escolha de novas áreas destinadas a abrigar parques e unidades de conservação. A redação de quatro decretos governamentais e 11 resoluções na área de meio ambiente contém referências específicas a informações do Biota.
No artigo da Science, os pesquisadores ainda citam os pontos em que o desempenho do Biota, programa que a cada dois anos é avaliado por um comitê internacional independente, ficou aquém do esperado em sua primeira década de existência. Segundo Joly, essas áreas – que incluem a produção de material educativo para escolas, o estudo da biologia marinha, a distribuição de espécies invasivas no estado de São Paulo e a dimensão humana das ações de conservação de biodiversidade – receberão maior ênfase na segunda fase do Biota, que pode durar até 10 anos.
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