Pensar em polinização traz à mente a romântica visão de abelhas ou beija-flores voando de flor em flor, salpicados de pólen. Mas a história pode ser mais dramática, como acontece com orquídeas da espécie Dichaea cogniauxiana. Fêmeas de besouros do gênero Montella, com 2 milímetros de tamanho, visitam as orquídeas e transferem pólen do órgão masculino para o feminino da mesma flor. Em seguida depositam ali seus ovos, que originam larvas prontas a banquetear-se no fruto formado graças à ação fertilizadora das mães. Quando isso ocorre, as sementes são devoradas e a orquídea desperdiça seu esforço reprodutivo. Em cinco anos de observação, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) notaram que um terço dos frutos infestados recebeu ajuda de vespas parasitoides, que mataram as larvas de besouro. Nesses casos, os frutos das orquídeas se desenvolveram normalmente, segundo estudo que foi parte do doutorado do biólogo Carlos Eduardo Nunes na Unicamp, orientado por Marlies Sazima (Current Biology, março). Os pesquisadores calculam que o sistema compensa para a planta onde polinizadores gentis são raros. Com a ajuda das vespas, as orquídeas dessa espécie polinizadas pelo besouro têm mais chances de produzir sementes viáveis do que as não visitadas por esses insetos.
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