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Sociologia

Usuários de crack soltam a voz

Indagado sobre quanto tempo vivia na Cracolândia, uma região do centro da cidade de São Paulo com alta concentração de usuários de crack, um homem negro de 62 anos respondeu que estava ali “desde a primeira Cracolândia”, no final dos anos 1980, na região da antiga rodoviária, no bairro do Bom Retiro. Uma mulher negra de 36 anos contou que havia sido internada “trinta e poucas vezes” para se tratar, um homem branco de 39 anos, 17 vezes. Pesquisadores do Núcleo de Estudos da Burocracia da Fundação Getulio Vargas (FGV) e do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da FAPESP, entrevistaram 90 usuários de crack, frequentadores ou moradores da Cracolândia entre 15 de julho e 15 de agosto de 2022. Nesse levantamento, verificaram que 66% são homens negros, 16% mulheres negras e 14% homens brancos, além de duas mulheres brancas e um indígena; 78% têm entre 30 e 49 anos de idade, 69% dormem na rua, 36% estão ali entre 5 e 10 anos e mais de 60% reportaram agressões nas semanas anteriores à realização das entrevistas. “Agressão moral, pois vivem nos chamando de lixo, tratam as pessoas como se não fossem seres humanos”, disse uma mulher negra de 40 anos sobre abordagens policiais (CEM, 21 de novembro).

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