virgínia yunesDo estudo de plantas, o pesquisador José Andrés Yunes, de 46 anos, formado em engenharia agronômica pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), enveredou para pesquisas de biologia molecular da leucemia infantil. “Quando cursava agronomia, comecei a trabalhar com cultura in vitro de células vegetais”, relata Yunes. O interesse pela cultura de células foi o gatilho de uma trajetória que o levou ao Centro Infantil Boldrini, em Campinas, referência em tratamento de câncer infantil. “Em um congresso na Esalq [Escola de Agricultura Luiz de Queiroz], em Piracicaba, vi um cartaz sobre pós-graduação em biologia celular na Universidade Estadual de Campinas”, conta. Do congresso foi direto para Campinas, onde conheceu o professor Paulo Arruda, que coordenou o Projeto Genoma Cana da FAPESP. A iniciativa resultou em uma especialização e um doutorado em biologia molecular.
Terminado o doutorado em abril de 1997, soube por Arruda que o Centro Boldrini queria montar um laboratório de biologia molecular no hospital. Seis meses depois de colaborar com o Boldrini informalmente, foi contratado como pesquisador e deu início à montagem do laboratório com equipamentos de ponta, como um sequenciador automático. “Passei duas semanas na Itália, onde aprendi a fazer diagnósticos para a leucemia”, conta. Yunes começou a orientar alunos de iniciação científica, mas como não tinha uma carreira na área médica enfrentou dificuldades para ter projetos aprovados.
Para conseguir avançar na área, foi para Boston em 2001 fazer um pós-doutorado no Dana Farber Cancer Institute, vinculado à faculdade de medicina da Universidade Harvard, onde ficou até o final de 2003. Antes colaborou com o grupo de pesquisa de leucemia linfoide aguda pediátrica para o programa Genoma Clínico do Câncer, que resultou em parceria duradoura com pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
Na volta ao Brasil, deu sequência a um projeto acalentado desde 1997, que era o de conseguir quantificar o número de células leucêmicas após um mês de tratamento intensivo com quimioterapia. A partir da informação da quantidade de células cancerosas presentes na medula os médicos conseguem fazer ajustes no tratamento. “Até então a análise era feita no microscópio e a diferenciação das células era pelo formato delas, um método de baixa sensibilidade”, relata. Junto com o grupo de pesquisa do Genoma Clínico do Câncer, Yunes começou a trabalhar em um projeto para uso do método PCR (reação em cadeia da polimerase) para quantificação das células leucêmicas. Os resultados da pesquisa mudaram o protocolo de tratamento da leucemia infantil no Brasil.
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