daniel buenoDisposta a verificar a consistência de estudos de psicologia social, uma força-tarefa de 100 pesquisadores de vários países tentou repetir os resultados de 27 artigos dessa área publicados recentemente. Em pelo menos 10 casos, ou seja, em mais de um terço do total, os achados não se confirmaram. Em outros cinco artigos o efeito observado foi menor que o descrito no estudo original ou apareceram problemas estatísticos não relatados pelos autores.
“A replicação dos resultados nos ajuda a ter certeza de que é realmente verdade aquilo que achamos que é verdade”, explicou à revista Science Brent Donnellan, psicólogo da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, um dos líderes da força-tarefa. A impossibilidade de reproduzir resultados de pesquisas tira o sono da comunidade científica por representar um obstáculo ao avanço do conhecimento e, em alguns casos, envolver fraudes.
Os avaliadores advertem que não se pode afirmar que houve má conduta científica. Um dos estudos não reproduzidos sugere que eventos físicos ligados à limpeza, como lavar as mãos, podem influenciar o comportamento das pessoas e fazê-las momentaneamente agir com menos severidade em julgamentos morais. O paper, divulgado em 2008 na Psychological Science, buscava complementar trabalhos similares – um deles mostrava que um sentimento de desgosto podia tornar mais severo o julgamento de um indivíduo.
“Eu me sinto como um suspeito de um crime sem o direito de se defender”, disse Simone Schnall, autora do artigo e psicóloga da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. “Defendo meus métodos e minhas descobertas e não tenho nada a esconder.” Ela afirma que a metodologia adotada na reavaliação de seu estudo foi diferente da utilizada originalmente: alguns dados que divergiam muito da média de observações foram descartados pelos revisores. Brent Donnellan confirma a diferença de metodologia, mas diz que utilizou várias estratégias para evitar distorções – em todas elas, os achados de Schnall não se confirmaram. Ele afirma que o problema do estudo foi o número restrito de casos analisados pela pesquisadora, o que pode gerar um resultado falsamente positivo.
Para reduzir o prejuízo profissional, Daniel Kahneman, professor da Universidade de Princeton, sugeriu a adoção do que chamou de “etiqueta da reprodução”, com os avaliadores buscando de boa-fé a colaboração dos autores dos estudos, que, por sua vez, devem participar ativamente dos esforços de replicação. De todo modo, ele observa, responsáveis por estudos com resultados espetaculares devem buscar eles próprios repetir os resultados de seus trabalhos antes que algum colega tente fazê-lo.
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