Boa parte dos brasileiros à espera dos Jogos Olímpicos, que começam em pouco mais de um mês no Rio de Janeiro, tem mais interesse por assistir esportes pela televisão, no conforto de um sofá, do que praticá-los pessoalmente. A atividade em nível olímpico pode ser excessiva, mas a falta de exercício no tempo de lazer pode estar por trás de um aumento em doenças cardiovasculares e metabólicas, de acordo com estudo coordenado pelo epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), que se destaca por acompanhar a saúde de uma população considerável ao longo dos anos.
O trabalho, publicado na edição de junho da revista Journal of the American Heart Association, acompanhou 10.585 integrantes saudáveis do Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) (ver Pesquisa FAPESP nº 164), dos quais um quarto dizia praticar atividades físicas em seu tempo de lazer: ao menos 150 minutos de atividades físicas moderadas, ou pelo menos 75 minutos de atividade vigorosa por semana. Ao fazer a avaliação cardiovascular, o estudo verificou que os participantes ativos tinham uma série de indicadores de saúde melhores do que os inativos, como Índice de Massa Corpórea (IMC, referência de obesidade), tensão arterial e frequência cardíaca. A prevalência de hipertensão e diabetes também parecia ser mais baixa, assim como um índice que prevê o risco cardiovascular nos 10 anos seguintes. “A associação entre quem faz atividade física e a saúde cardiovascular é muito forte”, conta Lotufo. “Não dá para dizer que é uma relação casual.”
A conclusão é especialmente preocupante diante do quadro pintado por um levantamento anterior de que Lotufo participou, com base na Pesquisa sobre padrões de vida do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1996 e 1997: entre os brasileiros, 87% não aproveitavam o tempo livre para fazer exercício. Nestes últimos 20 anos, com um modo de vida cada vez mais urbano, parece improvável que a situação tenha melhorado.
Os dados agora analisados se referem à linha de base do Elsa-Brasil entre 2008 e 2010. Mais uma leva de medições foi feita entre 2012 e 2014, ainda não analisada, e o grupo – que envolve pesquisadores e voluntários de seis instituições de pesquisa em diferentes estados brasileiros – está se preparando para a amostragem de 2016 a 2018, em que a atividade física será monitorada de maneira mais rigorosa – baseada em acelerômetros, equipamentos que medem o exercício praticado, em vez de questionários.
Lotufo não pretende mandar todos os brasileiros para a academia, mas não tem dúvidas de que a atividade física cotidiana, como correr ou jogar bola por pelo menos 30 minutos ao dia de segunda a sexta-feira, é crucial para a manutenção da saúde cardiovascular e metabólica. Mais do que a força de vontade pessoal, ele defende que políticas estimulem a prática. “As praças públicas são a forma mais fácil que existe de se exercitar”, sugere. “São gratuitas e deveriam estar perto de casa.”
Artigo científico
LIN, X. et al. Leisure time physical activity and cardio‐metabolic health: results from the brazilian longitudinal study of adult health (ELSA‐Brasil). Journal of the American Heart Association, v. 5, n. 6, e003337. 13 jun. 2016.