Criada há 50 anos, a Unicamp é hoje uma das melhores e mais internacionalmente reconhecidas universidades brasileiras. Em 2015, 2.445 jovens concluíram ali seus cursos de graduação, 1.348 concluíram seus mestrados e 993 seus doutorados. Egressos da Unicamp criaram, nos últimos 30 anos, mais de 500 empresas, que faturaram mais de R$ 3 bilhões em 2015. Milhares de outros formados na universidade atuam em empresas, governo e organizações sociais, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social do país. A universidade é detentora de mais de mil patentes, registra anualmente mais patentes do que a maior parte das empresas no Brasil e tem obtido ótimos resultados em licenciá-las, criando assim desenvolvimento baseado em conhecimento em empresas brasileiras e estrangeiras. Noventa e nove por cento do corpo docente tem o doutorado completo.
Além, é claro, de sua fundação em 1966, sob a liderança do reitor Zeferino Vaz, outro evento definidor da vida institucional da Unicamp foi o estabelecimento no estado de São Paulo, a partir de 1990, do regime de autonomia com vinculação das receitas orçamentárias à arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) paulista. A vinculação permitiu, e continua permitindo, que a universidade exerça de forma completa a autonomia garantida pelo artigo 207 da Constituição Federal. Os resultados deste regime de funcionamento têm sido extremamente positivos. Consideremos, por exemplo, que: de 1989 a 2015 a quantidade de docentes caiu em 11% (de 2.103 para 1.867) e o de funcionários caiu 17% (de 10.161 para 8.404), e, ao mesmo tempo, o número de vagas duplicou, o de alunos matriculados nos cursos de graduação cresceu 161% e na pós-graduação, 142%. Os doutorados defendidos anualmente cresceram 641% e o número de publicações científicas em revistas cadastradas no Web of Science cresceu 1.287%. Essa produção científica é reconhecida, usada e bem citada no mundo todo, e no período de 2013 a 2015 os artigos com autores na Unicamp foram os mais citados internacionalmente dentre as universidades brasileiras.
Usando as prerrogativas da autonomia universitária, a Unicamp criou nos anos 1970 uma das primeiras incubadoras de empresas de base tecnológica do país, a Codetec. Nos anos 1980, criou os núcleos interdisciplinares de pesquisa, para facilitar o engajamento dos professores em pesquisa orientada a problemas; há mais de 30 anos foi normatizada a possibilidade de professores serem regularmente licenciados do Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa (RDIDP) para criar empresas. No acesso ao ensino de graduação, a Unicamp usou a autonomia para idealizar e implementar o Programa de Ação Afirmativa para Inclusão Social (PAAIS). Criado em 2004, associou o objetivo de mais inclusão social com o compromisso da universidade com o mérito e qualificação dos estudantes selecionados. Baseado num estudo cuidadoso sobre os determinantes do desempenho acadêmico dos estudantes selecionados pelo vestibular, o PAAIS levou a Unicamp a ter 47,4% dos matriculados em 2016 oriundos de escolas públicas, sem usar sistema de cotas. Com objetivo similar, o Programa de Formação Interdisciplinar Superior (Profis) busca os melhores alunos dos cursos públicos de ensino médio na região de Campinas, oferecendo-lhes vaga em um curso sequencial de dois anos e, em seguida, dependendo do desempenho, em cursos de graduação regulares da universidade, sem necessidade de prestar o exame vestibular. Ainda no exercício da autonomia universitária, a Unicamp deu os primeiros passos nos anos 1980 para estimular a criação de um acervo de patentes, e a partir de 2004, com a criação da sua agência de inovação, a Inova, estabeleceu um modelo que vem sendo seguido por muitas outras universidades no país.
A Unicamp tem sido, juntamente com a Universidade de São Paulo (USP), uma das duas instituições brasileiras mais bem classificadas nos vários ran-kings internacionais de universidades, garantindo boa visibilidade internacional, o que facilita colaborações, abre oportunidades para os estudantes e aumenta a qualidade da pesquisa.
Mesmo com todas as realizações, os desafios atuais são enormes. A própria ideia de universidade pública está sob forte ataque no Brasil. A crise instalada no país, econômica e de valores, adiciona complexidade aos desafios. As expectativas dos contribuintes e de seus representantes sobre os resultados das universidades, especialmente sobre as melhores delas, se elevam a cada semana e variam de acordo com a pauta nacional. Se o problema é zika, espera-se que a universidade o resolva em algumas semanas. Quando sai um novo ranking internacional, cobra-se porque nossas melhores instituições não foram mais bem classificadas, mesmo que as universidades estrangeiras com as quais são comparadas tenham orçamentos muito mais elevados. Quando o debate é orçamento público critica-se porque universidades custam muito. Se as empresas não avançam a tecnologia, espera-se que as universidades o façam em seu lugar. Quando a escola fundamental não tem qualidade, deseja-se que as universidades admitam os alunos sem estarem preparados e façam o milagre de compensar 12 anos de má educação em um ou dois. A Unicamp, assim como as melhores universidades brasileiras, pode e deve enfrentar e superar os desafios colocados. E tem feito isso sempre, beneficiando a sociedade com excelência em educação e criação de conhecimento por meio da pesquisa.
O presente suplemento da revista Pesquisa FAPESP busca mostrar algumas das contribuições da Unicamp ao Brasil, colocando-as numa perspectiva histórica. Ao lê-lo, fica claro que a cada ano a Unicamp obtém mais resultados e se torna mais reconhecida nacional e mundialmente. Em sua trajetória de 50 anos, a comunidade da Unicamp tem se empenhado, na maior parte do tempo com sucesso, para que valores de natureza acadêmica sejam determinantes nas decisões da universidade. Graças a este compromisso a Unicamp tem sido um dos bons exemplos a defender a ideia de universidade pública no Brasil.
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