Nos arbustos da aroeirinha (Schinus weinmannifolius), no Pampa gaúcho, bolotas rosadas nem sempre são frutos. Cortadas, revelam uma série de cavidades dispostas em círculo, como se fossem gomos, cada uma contendo uma larva de vespa. Essas galhas, estruturas produzidas pela planta em resposta à ação dos insetos, foram descritas por volta de um século atrás pelo jesuíta português Joaquim da Silva Tavares (1866-1931). Só agora o grupo liderado pelo entomologista Gilson Moreira, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mostrou que a história é bem mais complexa e começa com uma micromariposa até então desconhecida pela ciência.
O inseto ganhou o nome de Cecidonius pampeanus, que remete a galhas (kekídion, em grego) e ao bioma em que vive, conforme artigo publicado em setembro na revista Zookeys. Ele passou despercebido por tanto tempo porque as galhas que contêm suas larvas são verdes, do tamanho de feijões, e caem da planta durante o outono para desenvolver-se no chão. “As larvas ficam dormentes durante o inverno e se desenvolvem na primavera, para depois emergir”, explica Moreira.
“Levamos 10 anos para conseguir criar as larvas e identificar a espécie”, conta. Afinal conseguiram e, por meio de microscopia óptica, eletrônica e análises genéticas identificaram a mariposa com cerca de 1 centímetro (cm) de envergadura das asas acobreadas. A família, Cecidosidae, também tem representantes na Nova Zelândia e África do Sul, além da América do Sul. “Na África, as galhas produzidas por essas mariposas são conhecidas como jumping beans.” O termo, que significa feijões saltadores, se refere à impressão de que os pequenos grãos estão saltitando pelo chão quando as larvas dentro deles se remexem.