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Rio+20

Estratégias para a Rio+20

Embaixador Figueiredo Machado diz em evento na FAPESP que país deve servir como ponte entre extremos

Eduardo Cesar

Machado acredita na economia verde para alcançar o crescimento econômico com justiça social e proteção ambientalEduardo Cesar

O governo brasileiro começa a apresentar as estratégias de ação que deve adotar na Conferência Rio+20, que será realizada em junho no Rio de Janeiro. “O Brasil tem que servir como ponte e facilitador do diálogo entre posições extremas”, disse o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado em uma das conferências do BIOTA-BIOEN-Climate Change Joint Workshop: Science and Policy for a Greener Economy in the context of RIO+20, evento patrocinado e organizado pela FAPESP, que começou nesta terça-feira (6) e termina na quarta-feira (7) no auditório da APAS, próximo à sede da Fundação, no Alto da Lapa, em São Paulo.

“O Brasil foi outro depois da Rio-92, no que diz respeito a preocupações ambientais e visão planetária”, disse Machado, que preside a secretaria executiva da comissão nacional da Rio+20. Para ele, a Rio-92 transformou a sociedade brasileira. “A Rio+20 ocorrerá em uma época completamente diferente. Em 1992, saíamos da guerra fria, com a bipolaridade esfacelada e formava-se uma nova geometria do poder mundial. Tínhamos a expectativa de um mundo mais pacífico, coordenado e positivo, mas o que vemos é uma série de crises, climática, social, financeira, que põem a nu a capacidade de resposta dos atuais modelos de desenvolvimento.” Segundo o embaixador, estamos fazendo algo errado. “Se continuarmos assim vamos realimentar um sistema em crise.”

Para Machado, a economia verde com desenvolvimento sustentável poderia ser uma ferramenta capaz de atingir os objetivos de crescimento econômico com justiça social e proteção ambiental.  “O assunto economia verde precisa muito de ciência”, observou Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP. “Estamos tentando garantir que essa ciência seja oferecida em quantidade adequada.”

Brito Cruz apresentou os três programas mais diretamente ligados à temática da Rio+20: o Biota, com cerca de R$ 100 milhões investidos em 915 projetos de pesquisa e bolsas; o de bienergia, Bioen, com R$ 100 milhões aplicados em 55 projetos; e o de mudanças climáticas, com R$ 65 milhões de investimentos realizados em 125 projetos de pesquisa. “A ciência está ajudando o estado de São Paulo a ter uma legislação ambiental mais moderna e mais eficiente”, disse ele, exemplificando com dois decretos estaduais de preservação de áreas de vegetação nativa elaborados com base nos estudos do programa Biota.

“A experiência com o Biota pode ser relevante para a construção de uma plataforma de relevância internacional”, comentou Celso Lafer, presidente da FAPESP. O adensado corpo de conhecimento científico construído pelos pesquisadores paulistas “oferece informações imprescindíveis” para a etapa de preparação da negociação da Rio+20”, ressaltou. Lafer acompanhou a Rio-92 como ministro da Relações Exteriores. “Sei por experiência própria das complexidades das negociações ambientais, que implicam um delicado equilíbrio entre governança, com suas visões e interesses distintos, e o imperativo do bem-estar da humanidade.”

Em sua apresentação, o físico José Goldemberg, da Universidade de São Paulo (USP), ex-ministro do Meio Ambiente em 1992, lembrou que um dos desafios do desenvolvimento sustentável é a substituição da gasolina, que responde por 26% do consumo dos combustíveis fósseis no mundo. “Há uma demanda crescente por esse tipo de combustível”, disse ele. “Hoje há 750 milhões de automóveis em circulação, mas algumas projeções indicam que haverá 2,2 bilhões de carros no mundo em 2050.”

Para ele, o etanol é a única solução proveniente de fontes de energia renovável capaz de substituir a gasolina. Segundo Goldemberg, o aproveitamento de terras subutilizadas pela agricultura poderia fazer com que o etanol substituísse até 40% da demanda por combustíveis fósseis.

Veja o vídeo da entrevista inédita de José Goldemberg sobre as diferenças entre a Rio-92 e a Rio+20

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