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Genoma-FAPESP

Incorporando novas tecnologias

O “microarray”, tecnologia recente utilizada, por exemplo, para a ordenação dos genes de um genoma antes de seqüenciá-los ou analisar expressão gênica, foi o tema da palestra Xylella Genome Group: Hybridisation-Based Genome Analysis, realizada no dia 6 deste mês, no auditório da FAPESP. A nova metodologia, desenvolvida ao longo dos cinco últimos anos, foi apresentada por um dos seus criadores, Joerg Hoheisel, do Centro para Pesquisas do Câncer, em Heidelberg, Alemanha.

O “microarray” já foi incorporado ao Projeto Genoma-FAPESP e permitiu a revisão e a complementação dos cosmídeos (fragmentos de DNA) distribuídos aos 33 laboratórios paulistas que estão trabalhando no seqüenciamento da Xylella fastidiosa, bactéria causadora da clorose variegada de citros (CVC).

A novidade desta técnica está na forma de tomar, um a um, fragmentos de DNA e verificar se há interações ou superposições entre eles. O resultado, obtido através de métodos computacionais desenvolvidos no centro alemão, permite a elaboração de um arranjo representado graficamente em um mapa físico do genoma. A partir desta ordenação completa do conjunto de genes a serem seqüenciados, a escolha dos fragmentos é 100% racional.

Quando enfatiza que seu interesse está na tecnologia, Joerg Hoheisel não deixa dúvidas sobre o princípio que orienta seu trabalho: a necessidade de contribuir para o desenvolvimento da Biologia com recursos tecnológicos aplicáveis a diferentes áreas. Uma das afirmações que fez durante a palestra resume sua filosofia: “No futuro, o médico coletará uma gota de sangue do paciente, colocará em uma máquina e, em dez minutos, será capaz de diagnosticar qualquer doença”.

A rigor, com o rápido avanço na tecnologia de seqüenciamento genético, campo onde seu trabalho é reconhecido internacionalmente, será possível detectar a presença do câncer ou do DNA de um organismo causador de infecções com muita rapidez. Sob outro aspecto, a contribuição do pesquisador também adianta o futuro para os cientistas de São Paulo. Para Andrew Simpson, coordenador de DNA do Projeto Genoma-FAPESP, “até agora, a defasagem do Brasil em relação aos Estados Unidos, no que diz respeito à aplicação de tecnologia, tem sido de cinco a dez anos, mas aquele projeto está mudando radicalmente esta situação na área de Biologia Molecular”, afirma.

“A qualidade da pesquisa, iniciada em dezembro do ano passado, é a responsável pela aproximação de cientistas e instituições de alto nível, e o acesso aos avanços tecnológicos internacionais e aos responsáveis pelo seu desenvolvimento passa a ser muito mais amplo e ágil”, completa. Na verdade, este é também um dos objetivos do Projeto: garantir condições para o constante aperfeiçoamento dos profissionais envolvidos.

O “microarray” mudou completamente os rumos do projeto de seqüenciamento da Xylella em fevereiro deste ano, com a viagem da pesquisadora da Unicamp, Anette Pereira, a Heidelberg. Durante dois meses, no laboratório do professor Hoheisel, ela produziu a biblioteca dos fragmentos da Xylella, clonado em cosmídeos. Em seguida, em colaboração com os pesquisadores Marcus Frohme, de Heidelberg, e Anamaria Camargo, do Instituto Ludwig, foi feita a ordenação desses cosmídeos no mapa físico. “Ao final deste trabalho, mudamos nossas estratégias, pois verificamos que esta opção era a mais correta, perfeitamente de acordo com a estrutura do nosso projeto”, diz Andrew Simpson.

“Naquele momento, percebemos que, além de ser o primeiro seqüenciamento completo de um organismo realizado no Brasil, o nosso projeto também seria inédito pela forma de trabalhar o genoma de uma bactéria”. Hoje, a equipe comemora a escolha da metodologia, uma das muitas alternativas para fazer o seqüenciamento de um genoma. O enorme poder do “microarray” está ainda na possibilidade de analisar, simultaneamente, a expressão de todos os genes de um genoma, o que pode ser aplicado a uma grande quantidade de projetos em andamento em São Paulo. Para os projetos Genoma-Câncer e Genoma-Cana, a serem lançados brevemente, esta tecnologia também significa um impulso significativo.

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