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Opinião

Da academia para a empresa

Uma proposta para tornar pesquisadores empresários

Graças ao apoio à pesquisa acadêmica, no qual a FAPESP se destaca, vem crescendo a participação brasileira na produção científica. A produção tecnológica nem de longe tem acompanhado esse progresso; poucas empresas baseiam seus negócios em tecnologias desenvolvidas localmente. Enquanto governos de países do Primeiro Mundo concentram a maior parte de seus recursos na contratação de desenvolvimentos em empresas, visando ao seu desenvolvimento tecnológico, no Brasil se espera que o mercado resolva tudo sozinho. Também é incipiente a passagem de conhecimentos do meio acadêmico para o empresarial.

O sucesso da Embraer é a exceção que confirma a regra; sua tecnologia original foi contratada pelo governo e teve apoio de uma instituição pública de ensino e pesquisa praticamente criada com esse fim. Em relação à contratação de desenvolvimentos em empresas, a FAPESP, com seu Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas, deu o primeiro passo. O que poderia fazer em relação à transferência de conhecimentos acadêmicos para a empresa? Um dos mecanismos mais eficientes, o próprio pesquisador “empresariar” essa transferência, ocorre raramente no Brasil. Falta de capital de risco é um fator, mas talvez o maior inibidor seja a diferença dos regimes de aposentadoria público e privado, que aumenta o risco pessoal.

No Estado de São Paulo o problema poderia ser resolvido se houvesse uma colaboração entre a FAPESP e as universidades (e/ou institutos de pesquisas). Estas deveriam criar a possibilidade de uma licença especial para pesquisadores que desejem montar empresas a partir dos resultados de suas pesquisas. Essa licença deveria ser por um período inicial de um ano, renovável no máximo por duas vezes. A empresa teria como acionistas o próprio pesquisador, que participaria com seu trabalho, iniciativa e conhecimentos; a universidade, em troca da remuneração do pesquisador durante a licença e eventuais usos de laboratórios; a FAPESP, em troca do financiamento da transformação dos conhecimentos básicos em produtos, e, em alguns casos, capitalistas de riscos. Um dos critérios para a renovação seria a demonstração da viabilidade da empresa. Após o período máximo, o pesquisador teria de optar em se demitir da universidade ou se afastar da administração da empresa.

Além dos benefícios óbvios para a sociedade como um todo, a universidade ganharia muito com o programa. Ao interagir com a empresa, inclusive participando do conselho de administração, outros docentes passariam a ter mais conhecimento da vida empresarial, trazendo para dentro da universidade conhecimentos que ajudarão sua missão de formação de recursos humanos. Será natural a participação de alunos em estágios, colaborando na sua formação. Essas vantagens superam em muito o risco da perda de talentos pela universidade. Aliás, esse risco não é relevante.

Mesmo que o programa seja extremamente bem-sucedido, poucos pesquisadores estarão de fato envolvidos: a maioria das pesquisas da universidade não é apropriada para gerar empresas; poucos pesquisadores têm vocação empresarial e estarão dispostos a correr os riscos, e, finalmente, essa licença só deve ser concedida nos casos onde houver interesse também da parte da universidade. Finalmente, não se deve desprezar o fato de que o programa poderá se tornar um bom negócio. Se ele existisse quando a AsGa foi criada, a Unicamp estaria auferindo bons lucros.

Jose Ellis Ripper Filho, ex-professor do Instituto de Física da Unicamp, é diretor presidente da AsGa Microeletrônica.

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