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Tecnociência

As cicatrizes sociais do câncer

Quem sobrevive a um câncer nem sempre está livre de marcas que podem ir além das cicatrizes de uma cirurgia. Os tumores, em especial os detectados em estágio avançado, podem afetar a vida econômica e social de quem superou a doença e dos que estão à sua volta, por incapacitar as pessoas para o trabalho e reduzir a renda familiar. A equipe de Luiz Paulo Kowalski, do Hospital do Câncer A. C. Camargo, em São Paulo, entrevistou 301 pessoas que haviam tido tumor de boca, faringe ou laringe e estavam livres do problema havia pelo menos dois anos. Um terço dos entrevistados se tornou inapto para o trabalho mesmo após superar esses tipos de tumor. A renda familiar caiu muito em 42% dos casos. O principal fator de risco associado à incapacitação para o trabalho foi a baixa escolaridade: 80% dos entrevistados não haviam completado o ensino médio. Duas hipóteses ajudam a compreender esses resultados, detalhados nos Archives of Otolaryngology — Head and Neck Surgery. Pessoas com nível sociocultural mais elevado estariam mais bem preparadas para lidar com o câncer e suas seqüelas. Outra  explicação: as pessoas com menor escolaridade geralmente trabalham em atividades que exigem força física, reduzida pela enfermidade. Para os autores desse estudo, os resultados podem mostrar quem precisaria passar por uma reabilitação mais intensiva para facilitar a volta ao trabalho. Se a reabilitação não desse certo, essas pessoas deveriam receber um suporte social mais abrangente.

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