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Resenha

Dinossauros brasileiros e seus conterrâneos

Dinossauros e outros monstros – Uma viagem à pré-história do Brasil | Luis Eduardo Anelli | Editora Peirópolis/Edusp | 248 páginas | R$ 65,00

Podcast: Luiz Eduardo Anelli

 
     

Não se deve procurar por informações detalhadas sobre a alimentação dos carnívoros tiranossauros, a destreza dos velociraptors ou os chifres dos tricerátopos em Dinossauros e outros monstros –Uma viagem à pré-história do Brasil. O motivo é simples, como descobrirá o leitor do livro do paleontólogo Luiz Eduardo Anelli, professor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGc-USP): esses dinossauros estão fora do foco central da obra. Famosa por suas aparições em filmes do cinema norte-americano, essa troica de antigos répteis não viveu em terras hoje brasileiras. Ou, se por aqui pe-rambulou, não se encontraram (ainda) vestígios de nenhum deles. Tiranossauros, velociraptors e tricerátopos habitaram antigas porções continentais atualmente situadas no hemis-fé-rio Norte durante os estertores do Cretáceo, período geológico compreendido entre 145 e 66 milhões de anos atrás. Esta última data, há 66 milhões de anos, marca justamente a extinção das linhagens não voadoras dos dinossauros, provavelmente pela queda de um asteroide no México que alterou drasticamente o clima no planeta (as atuais aves são consideradas exemplares vivos dos dinossauros pelos paleontólogos).

No livro, as estrelas são espécimes de uma fauna antiga e extinta pouco conhecida do grande público, mas de grande importância para o entendimento do surgimento desses fascinantes animais que no século XIX foram batizados de dinossauros, termo de origem grega que significa, literalmente, lagartos terríveis. “Dentre os dinossauros que viveram em nossas terras, alguns estão entre os primeiros do mundo, e cá entre nós, ser o primeiro, o número um, quase sempre é coisa boa. Por isso, quando os estudamos, conhecemos a pré-história dos próprios dinossauros”, escreve Anelli, autor de vários livros sobre os dinossauros do Brasil. Esse é o caso do Pampadromaeus barberenai, um bípede onívoro de 15 quilos, 50 centímetros de altura e 1,20 metro de comprimento que viveu há 230 milhões de anos, cujo fóssil foi encontrado no Pampa gaúcho. Primeiro vestígio de dinossauro achado no Brasil, em 1936, também no Rio Grande do Sul, o Staurikosaurus pricei viveu igualmente cerca de 230 milhões de anos atrás. Seus restos petrificados estão hoje em um museu da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Apenas na vizinha Argentina, dona de ricas reservas fossilíferas nos desertos da Patagônia, afirma Anelli, há registros de restos de dinossauros ligeiramente mais antigos do que os achados no Brasil, aproximadamente 1 milhão de anos mais velhos.

Como indica seu próprio título, a obra não se restringe a passar em revista os dinossauros que ocorreram em terras nacionais. Há também “outros monstros”. “São chamados de monstros não porque foram abomináveis, seres detestáveis que desejaríamos jamais terem existido. Ao contrário. Foram monstros pela dimensão dos desafios que enfrentaram e pelas conquistas que tiveram”, justifica-se o paleontólogo da USP logo em suas primeiras linhas. Entre esses seres do passado remoto, nem todos contemporâneos dos dinossauros, Anelli destaca exemplares da chamada megafauna (preguiças e tatus gigantes, tigres-dentes-de-sabre), lagartos e crocodilos, pterossauros, aves diversas, anfíbios, mamíferos e até insetos. Feitas pelo artista Julio Lacerda, belas ilustrações de como podem ter sido esses animais, e dos ambientes em que eles viveram, aparecem na parte final do livro.

Mais do que fazer um simples inventário de representantes de uma fauna extinta que um dia cruzou nossas latitudes, Dinossossauros e outros monstros procura fornecer ao leitor o contexto geoclimático em que esses bichos viveram e morreram e explicar, à luz dos conhecimentos hoje disponíveis, por que alguns triunfaram em um certo período enquanto outros pereceram. O texto coloquial de Anelli é enriquecido por recursos gráficos explicativos. Há um conjunto de árvores genealógicas, que mostram as conexões das diferentes formas de vida de outrora, e mapas e tabelas explicativos sobre as eras geológicas do planeta, a movimentação dos continentes do globo, as bacias sedimentares do Brasil, entre outras questões. Ao menos no papel, a viagem ao mundo dos primeiros monstros brasileiros não parece assustar tanto.

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