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Obituário

Morre Pierre Kaufmann, um dos precursores da rádio astronomia no país

Professor titular do Mackenzie, foi responsável pela construção de vários rádio-observatórios e formou várias gerações de radioastrônomos

pierreokReprodução Univesp TVUm dos precursores da radioastronomia no Brasil, Pierre Kaufmann, morreu dia 17 de fevereiro aos 78 anos. Kaufmann era coordenador do Centro de Radio astronomia e Astrofísica (CRAAM), professor titular da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pesquisador em tempo parcial do Centro de Componentes Semicondutores (CCS) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e sócio-fundador da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), Kaufmann graduou-se em Física em 1961 pela Universidade Mackenzie.

“Kaufmann tinha uma mente inovadora e atuava em nichos de grande impacto para a ciência”, diz a física Adriana Benetti Marques Valio, coordenadora do curso de pós-graduação em Ciências e Aplicações Geoespaciais da Universidade Presbiteriana Mackenzie e coordenadora da Área de Astronomia e Ciência Espacial da FAPESP. Seu projeto mais recente, ela conta, era o de instalação de um sensor na Estação Espacial Internacional (EEI), que orbita em torno da terra. “A radioastronomia e a física solar brasileira perdem hoje seu maior expoente.”

A astronomia o “instigava” desde criança. Em entrevista à Univesp TV, em setembro de 2015, ele contou que, criado em fazenda, chamavam-lhe a atenção “os pedaços de estrelas” que caíam do céu, conforme lhe explicava a mãe.

A paixão pela astronomia se manifestou na adolescência, em 1954, quando passou a integrar a Associação dos Astrônomos Amadores, responsável pela instalação do primeiro radiotelescópio do país no então recém-inaugurado planetário do Parque do Ibirapuera. Na entrevista à Univesp TV, ele lembrou que a antena do equipamento, com 30 metros de altura, foi destruída por vacas em trânsito pela área do parque.

Em meados dos anos 1960, quando a Associação integrou-se ao grupo de Rádio Astronomia recém-constituído no Mackenzie, Kaufmann deu início a uma destacada carreira de pesquisa, inaugurada com um projeto sobre cintilação de radioestrelas, um dos 344 auxílios aprovados no primeiro ano de funcionamento da FAPESP.

“O professor Kaufman estabeleceu a pesquisa em radioastronomia em São Paulo, tendo recebido apoio da FAPESP já em 1962 para um projeto sobre radioestrelas. Com uma carreira muito bem sucedida, contribuiu decididamente para o desenvolvimento da ciência e tecnologia no Estado de São Paulo”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.

Kaufmann foi pesquisador em tempo parcial no Centro de Componentes Semicondutores (CCS) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor associado da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Foi responsável pela construção dos rádio-observatórios do Ibirapuera, em São Paulo, de Umuarama, em Campos do Jordão, de Itapetinga, em Atibaia, do VLBI, e de Eusébio, em Fortaleza. Teve participação ativa também na construção do Telescópio Solar Submilimétrico, instalado no Complexo Astronômico El Leoncito, no Andes Argentinos, do Laboratório Antártico de Pesquisas Ionosféricas e do Observatório Solar Mackenzie, em São Paulo.

Publicou cerca de 204 artigos científicos em periódicos indexados e é autor do livro La Atmosfera Solar y su Investigación atraves de Ondas Radioeletricas. Depositou sete patentes, tendo obtido a concessão internacional da patente “Sistema e Processo de Posicionamento Geográfico e Navegação”.  Ele também formou várias gerações de radioastrônomos, tendo orientado 17 mestres e sete doutores e supervisionado oito pós-doutores.

Desde 2014, Kaufmann era o pesquisador responsável pelo Projeto Temático “Diagnóstico de explosões solares em inédito intervalo espectral, de micro-ondas até frequências THz: desafios para interpretação (FLAT)”, apoiado pela FAPESP e implementado pela equipe de pesquisadores do CRAAM, em colaboração com colegas do Brasil e do exterior.

Em 2016, eles conseguiram observar, pela primeira vez, explosões solares nas frequências de 3 e 7 terahertz (THz). O anúncio foi feito durante a Reunião Anual da Divisão de Física Solar da American Astronomical Society, entre 31 de maio e 3 de junho, em Bolder, no Colorado, nos Estados Unidos.

Os resultados foram obtidos com o experimento espacial Solar-T, um telescópio fotométrico duplo, projetado e construído no Brasil por pesquisadores do CRAAM-UPM, em colaboração com colegas do Centro de Componentes Semicondutores da Unicamp.

Desenvolvido com o apoio da FAPESP, por meio de outro Projeto Temático também coordenado por Kaufmann, e de um Auxílio Regular em que era pesquisador responsável, o Solar-T foi acoplado a um balão estratosférico lançado pela agência espacial norte-americana – a Nasa –, em 19 de janeiro, na base MacMurdo dos Estados Unidos na Antártica, em uma missão voltada a observar o Sol.

Kaufmann coordenava ainda vários projetos inéditos com fotômetros na faixa THz e infravermelho para observação solar no solo, na estratosfera e no espaço, além de um novo sistema de georreferenciamento.

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