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Nobel de Química

Evolução dirigida e premiada

Os norte-americanos Frances H. Arnold e George P. Smith e o inglês Gregory P. Winter usaram mecanismos evolutivos para criar enzimas e anticorpos úteis à humanidade

Frances Arnold, George Smith e Gregory Winter

Niklas Elmehed / Nobel Media

O Nobel de Química de 2018 foi concedido a três pesquisadores que controlaram mecanismos evolutivos, que envolvem mudanças genéticas e processos seletivos guiados em laboratório, para produzir enzimas e anticorpos de interesse para a humanidade. A engenheira química norte-americana Frances H. Arnold, de 62 anos, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), ficou com metade do prêmio – 4,5 milhões de coroas suecas, cerca de US$ 500 mil – por ter realizado os primeiros experimentos, em 1993, com técnicas da chamada evolução dirigida para obter catalisadores, enzimas (um tipo de proteína) que aceleram as reações químicas. Atualmente, catalizadores obtidos com o refinamento dessa abordagem são empregados na produção de uma série de compostos, desde biocombustíveis até novos fármacos. Frances foi a quinta mulher a receber o Nobel de Química.

A outra metade da honraria foi dividida entre dois bioquímicos: o norte-americano George P. Smith, de 77 anos, da Universidade do Missouri, campus de Columbia, nos Estados Unidos, e o inglês Gregory P. Winter, de 67 anos, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Em 1985, Smith desenvolveu um método conhecido como phage display, no qual um tipo específico de vírus que ataca bactérias (bacteriófago) é usado para a criação de peptídeos (fragmento de proteína) que podem interagir com proteínas específicas. Winter empregou essa abordagem e a refinou para ser usada na geração de anticorpos, proteínas de defesa produzidas pelo sistema imunológico, para fins terapêuticos. Em 2002, o primeiro anticorpo monoclonal produzido pelo método, o adalimumabe, foi aprovado para tratamento de artrite reumatoide, psoríase e doenças inflamatórias intestinais, como a de Crohn e a colite ulcerativa.

“Com o método do phage display, geramos uma biblioteca com mais de 1 bilhão de diferentes peptídeos ou anticorpos e podemos testá-los em laboratório para ver se algum deles se liga a proteínas de nosso interesse”, comenta o bioquímico Ricardo Giordano, da Universidade de São Paulo (USP), que emprega o método no estudo de peptídeos. Sua biblioteca de peptídeos começou a ser montada a partir do DNA de bacteriófagos enviados pelo próprio Smith por volta de 2010. Atualmente, o phage display é uma técnica de clonagem amplamente utilizada na biologia molecular para o desenvolvimento de anticorpos capazes de neutralizar toxinas, controlar doenças autoimunes e até tratar câncer metastático.

Frances estava dormindo em um hotel no estado norte-americano do Texas quando o telefone tocou com a notícia de que tinha sido agraciada com o prêmio. “Primeiramente, pensei que fosse um dos meus filhos, com algum problema”, disse. “Mas em seguida foi fantástico. Eles me disseram que tinha ganho o Nobel.” Aposentado há três anos da universidade, Smith, que costuma acordar muito cedo, já estava de pé quando recebeu a notícia às 5 horas (hora local), por meio de um telefonema vindo da Academia Real Sueca de Ciências. “Inicialmente pensei que era piada. Mas havia tanta estática na ligação que percebi em seguida que se tratava de algo real”, comentou ao seu interlocutor, que falava de Estocolmo.

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