A situação da Mata Atlântica, um dos ambientes com maior biodiversidade e também mais ameaçados do mundo, pode estar melhor do que se imaginava até pouco tempo atrás. Dados obtidos por sensoriamento remoto de alta resolução indicam que sua vegetação se espalha por 28% da área que ocupava antes da chegada do colonizador europeu (Perspectives in Ecology and Conservation, 22 de outubro). Segundo essa estimativa, restam aproximadamente 32 milhões de hectares (ha) de Mata Atlântica, o dobro dos cálculos anteriores. O novo levantamento foi conduzido por pesquisadores do Rio de Janeiro, de Pernambuco e de São Paulo, entre estes, Carlos Alfredo Joly, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do Programa Biota-FAPESP. No trabalho publicado agora, os pesquisadores analisaram os dados obtidos em 2013 pelo RapidEye, satélite que produz imagens em alta resolução da superfície da Terra. Enquanto os satélites tradicionalmente usados para o monitoramento do bioma geram imagens com resolução de 30 metros (m), as do RapidEye têm uma precisão de 5 m. Desse modo, conseguiu-se identificar grandes áreas de floresta secundária que não haviam sido mapeadas até então. Também se verificou que existem quase 7 milhões de ha de áreas degradadas às margens de lagos, rios e nascentes, dos quais ao menos 5,2 milhões de ha devem ser recuperados para os proprietários ajustarem a situação de suas terras às exigências da legislação atual. “Alcançar a conformidade legal para áreas ripárias [zonas ribeirinhas], por meio da recuperação da cobertura vegetal nativa ao longo dos cursos d’água, é fundamental para nossa segurança hídrica”, destaca a bióloga Camila Rezende, pesquisadora da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável e coordenadora do estudo. Segundo Camila, se a recomposição dessas áreas seguir as determinações do código florestal em vigor, a Mata Atlântica poderia alcançar em duas décadas 33% de sua cobertura original. Mesmo com a perspectiva de que a área preservada seja maior do que se pensava, a Mata Atlântica ainda é um dos hotspots de biodiversidade no mundo – áreas com alta concentração de espécies endêmicas que perderam ao menos 70% de sua cobertura vegetal original.
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