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Física

Astrônomo brasileiro Marcelo Gleiser ganha o Prêmio Templeton

Láurea que já foi concedida ao Dalai Lama incentiva o diálogo entre ciência e espiritualidade

Eli Burakian/Dartmouth CollegeO físico e astrônomo brasileiro Marcelo Gleiser, de 60 anos, é o vencedor deste ano do Prêmio Templeton, uma espécie de Nobel da espiritualidade. O anúncio foi feito nesta terça-feira (19/03) pela Fundação John Templeton, dos Estados Unidos, que concede a honraria desde 1973. Natural do Rio de Janeiro, é professor do Dartmouth College, em New Hampshire, Estados Unidos, há 28 anos, e ganhou projeção como divulgador de ciência, participando de programas de televisão nos Estados Unidos, na Inglaterra e no Brasil. Autor de livros que discutem a origem do Universo, Gleiser frequentemente aborda a relação entre ciência e religião. Ele receberá US$ 1,4 milhão (cerca de R$ 5,3 milhões), valor superior ao do próprio Nobel, de cerca de US$ 1 milhão.

O brasileiro é o primeiro latino-americano a receber o prêmio, que será entregue oficialmente em uma cerimônia em Nova York, no dia 29 de maio. A láurea é destinada anualmente a profissionais com “contribuições excepcionais para a afirmação da dimensão espiritual da vida, seja por meio de insights, descobertas ou obras práticas”, segundo anúncio da Fundação Templeton.

“Físico teórico, cosmólogo e um dos principais proponentes da visão de que ciência, filosofia e espiritualidade são expressões complementares da necessidade da humanidade de abraçar o mistério e explorar o desconhecido”, afirmou Heather Templeton Dill, neta do criador do prêmio, em um vídeo divulgado no site da fundação. De acordo com ela, Gleiser incorpora os valores que inspiraram seu avô, o banqueiro norte-americano John Templeton (1912-2008), a criar o prêmio na década de 1970. “Ele achava que Alfred Nobel [1833-1896] havia negligenciado um componente muito importante da existência humana: a religião e a espiritualidade”, disse Dill. Dentre os laureados anteriores estão Madre Teresa de Calcutá (1910-1997), o Dalai Lama e o físico britânico Paul Davies.

“O caminho para a compreensão e a exploração científica não é apenas sobre a parte material do mundo, e minha missão é trazer de volta para a ciência e para as pessoas que se interessam por ciência esse apego àquele mistério”, declarou o astrônomo no vídeo. “É fazer as pessoas entenderem que a ciência é apenas mais uma maneira de nos envolvermos com o mistério de quem somos.”

Formado em física pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Gleiser fez o mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), concluído em 1982, e obteve o doutorado em cosmologia no King’s College London, na Inglaterra, em 1986. Fez estágio de pós-doutorado na Universidade da Califórnia em Santa Barbara e no Fermi National Accelerator Laboratory, o Fermilab, um dos mais importantes laboratórios de física de partículas do mundo, ambos nos Estados Unidos.

Aos 32 anos, foi nomeado professor assistente de física e astronomia em Dartmouth e, aos 39, professor titular do posto. Publicou cerca de 100 artigos científicos – seu principal objeto de estudo é a cosmologia. Autor de cinco livros em inglês e nove em português, foi colunista do jornal Folha de S.Paulo. Em 2006, apresentou uma série em 12 episódios sobre cosmologia no programa Fantástico, da TV Globo.

Em entrevista à agência de notícias francesa AFP, Gleiser disse que se considera agnóstico, e não ateu. “O ateísmo é uma crença na não crença. Então você nega categoricamente algo contra o qual não tem provas”, afirmou. “Mantenho a mente aberta, porque entendo que o conhecimento humano é limitado.” Gleiser lamentou que os “novos ateus” tenham ampliado a distância com a religião, como o zoólogo britânico Richard Dawkins. Para o astrônomo, que cresceu na comunidade judaica carioca, religião não é apenas acreditar em Deus. “Ela dá um senso de identidade e comunidade”, afirmou à AFP.

Em muitas de suas obras, entre elas A dança do Universo (Companhia das Letras, 1997), Gleiser procura reforçar o vínculo entre ciência e filosofia. Em A simples beleza do inesperado (Record, 2016), escreveu: “Como cientista, tenho o privilégio de viajar pelo mundo, participando de conferências de todos os tipos, incluindo tópicos que vão da origem do Universo à origem da vida, do significado filosófico das leis da Natureza à relação entre ciência e religião”.

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