Produtores rurais do país contam desde agosto com uma nova tecnologia que pode reduzir custos de operação e elevar a produtividade das lavouras. Trata-se de um inoculante, produto biológico líquido à base de microrganismos vivos capaz de facilitar a captura, pelas plantas, do fósforo presente no solo. A novidade foi criada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a agritech paranaense Bioma. Com o lançamento do produto comercial, batizado de BiomaPhos, espera-se reduzir a dependência brasileira de fertilizantes químicos fosfatados (ricos em fósforo) importados.
A tecnologia de inoculação já é conhecida dos agricultores brasileiros. Calcula-se que seja adotada em mais de 28 milhões de hectares de soja, cerca de 80% do cultivo nacional. A principal linha desses produtos é composta por bactérias fixadoras de nitrogênio, que permitem a substituição total ou parcial da aplicação de adubos químicos nitrogenados em plantios de soja e feijão. O inoculante recém-lançado melhora o aproveitamento do fósforo, outro elemento importante, reduzindo a adubação química. Junto com o nitrogênio (N) e o potássio (K), o fósforo (P) forma a tríade de nutrientes essenciais aos vegetais. Eles são comumente encontrados nos adubos comerciais sob a forma de NPK.
“O BiomaPhos é fruto de uma pesquisa iniciada há 18 anos”, conta a microbiologista Christiane Abreu de Oliveira Paiva, da Embrapa Milho e Sorgo, de Sete Lagoas, em Minas Gerais. Países de clima temperado, como Estados Unidos, Canadá e Argentina, já desenvolveram produtos semelhantes, mas ainda não havia um específico para as condições brasileiras. O esforço da Embrapa em criar um inoculante específico para a agricultura nacional se deve ao fato de que a importação de inoculantes estrangeiros nem sempre surte bons resultados pelas diferenças entre clima e solo brasileiros e dos países produtores. Além disso, por ser um país tropical, o fósforo se encontra presente no solo do país associado a elementos químicos nem sempre encontrados em nações de clima temperado.
Paiva e colegas da Embrapa isolaram inicialmente 450 microrganismos capazes de tornar disponível o fósforo encontrado em argilas e na matéria orgânica presente no solo. “Dos 450, chegamos aos 15 melhores, e os testamos em sorgo, milho e outras plantas. Depois, escolhemos as cinco bactérias mais produtivas e fizemos ensaios no campo”, relata a pesquisadora. Com a comprovação do aumento da produtividade, a Embrapa firmou um acordo com a Bioma para produção do inoculante. Duas bactérias – Bacillus subtilis e Bacillus megaterium – foram selecionadas para o BiomaPhos.
O inoculante obteve inicialmente registro para uso na cultura do milho, em que, segundo a Embrapa, proporciona ganho de produtividade de 7 a 10 sacas por hectare. “O produto melhorou o aproveitamento do fósforo e deu estabilidade produtiva ao conferir à planta maior tolerância ao estresse hídrico”, diz o engenheiro-agrônomo Luís Eduardo Curioletti, diretor da estação experimental da empresa gaúcha Agrum Agrotecnologias Integradas, que participou da validação do produto.
“Estamos surpresos com a aceitação do produto, pois a tecnologia acabou de ir ao mercado”, conta Paiva. Ela explica que os bacilos dos inoculantes interagem com o fósforo existente no solo ou nos adubos químicos. “Ácidos e enzimas liberadas pelas bactérias quebram as moléculas de fósforo que, embora presentes no solo, estão indisponíveis para as plantas”, diz a pesquisadora da Embrapa. Isso porque o fósforo não se encontra livre na natureza; normalmente, ele está associado a átomos de oxigênio, formando compostos chamados fosfatos.
“As bactérias são solubilizadores de fosfato”, complementa a agrônoma Maria Catarina Megumi Kasuya, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais. “Elas pegam, por exemplo, o fosfato de rochas e o tornam solúvel para que a planta e o próprio microrganismo possam utilizar o fósforo presente nele.” Como, em geral, o solo brasileiro é pobre em fosfato, esse tipo de inoculante não dispensa o emprego de fertilizante fosfatado, mas permite o uso de menores quantidades.