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Mundo

A agonia de uma boa idéia

Biólogos do mundo inteiro comemoraram a fundação, dezesseis anos atrás, do Instituto Nacional da Biodiversidade (INBio) da Costa Rica. Embora a instituição nascesse modesta – suas primeiras instalações ficavam num armazém vazio -, tinha objetivos ambiciosos: inventariar cada uma das espécies da Costa Rica, país conhecido pela riqueza de sua biodiversidade, e encontrar meios sustentáveis de usar e preservar essa riqueza. O alicerce do INBio foi o inventário de espécies. Numa abordagem inovadora, foram treinados dezenas de parataxonomistas nas comunidades locais para coletar espécies país afora. Logo o INBio acumulou enormes coleções. Desafiando a tradicional dificuldade de levantar dinheiro para a taxonomia, aventurou-se em negócios de bioprospecção e de ecoturismo, cujos lucros foram investidos em conservação. Agora o projeto vive sérios problemas. No mês passado, a direção do INBio começou a dispensar um terço do time de 50 taxonomistas. Isso porque estão deixando o projeto os dois principais patrocinadores que bancaram o trabalho nos últimos sete anos: o Banco Mundial e o governo holandês. Os responsáveis pelo INBio dizem que o problema é temporário, mas já se teme que o desfalque da equipe restrinja as atividades a ponto de comprometer o trabalho de conservação. No ano passado, o INBio já abandonara seu plano ambicioso de inventariar tudo e se desfizera de suas coleções de moluscos e nematóides, centrando esforços em insetos e plantas. O instituto negociou acordos favoráveis com empresas farmacêuticas para procurar novas moléculas e a idéia de cultivar talentos científicos nativos num país em desenvolvimento teve apelo entre a comunidade de pesquisa. Mas os royalties de descobertas garantem apenas a metade do orçamento do instituto, enquanto a outra metade era bancada pelos dois patrocinadores.  “A direção do instituto está contra a parede”, diz Daniel Janzen, ecologista da Universidade da Pennsylvania, na Filadélfia. O impasse coloca em xeque a utopia que norteou a fundação do instituto, segundo a qual a exploração responsável da floresta tem viabilidade econômica. (Science, 7 de outubro)
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