A busca por alternativas aos combustíveis fósseis ganhou ímpeto nos anos 1970, quando o mundo sofreu os efeitos de dois choques no mercado de petróleo. No Brasil, país de matriz energética maciçamente de origem hidráulica, o principal resultado desses esforços foi o desenvolvimento de veículos movidos a um biocombustível que se tornaria um diferencial brasileiro – o etanol. Nas últimas décadas, o interesse por outras fontes tem sido impulsionado por uma preocupação crescente: o aquecimento global.
Carros elétricos são apresentados como uma alternativa amigável ao ambiente, mesmo quando alimentados com eletricidade gerada por termelétricas poluentes, por serem muito eficientes. O alto custo associado às baterias, cuja eficiência está ainda aquém do desejável, é um problema, assim como a necessidade de uma infraestrutura de abastecimento para que essa opção seja de fato viável.
A reportagem de capa desta edição oferece um panorama atual dos carros elétricos: os desafios tecnológicos, os diferentes tipos, o cenário internacional e as perspectivas no Brasil. No caso brasileiro, uma possibilidade seria o desenvolvimento de uma versão híbrida que aproveite as vantagens dos elétricos sem, contudo, descartar o etanol e a sua importância para a indústria automobilística e a economia. Para isso, será necessário um extensivo trabalho de pesquisa e desenvolvimento.
Substituir carros poluentes por não poluentes é desejável, mas há outros fatores em jogo, como os congestionamentos urbanos e os investimentos necessários para as novas estruturas de distribuição de energia. No quesito sustentabilidade, avanços tecnológicos devem ser analisados levando-se em conta o ciclo completo: a matéria-prima, o dispêndio energético e a emissão de poluentes na sua fabricação, sua eficiência e os impactos de seu descarte, entre outros pontos. Devem, também, ser pensados em termos mais amplos, no contexto de políticas públicas, dos incentivos ao transporte individual, como defendem alguns grupos, ou de prioridade ao transporte público, como pedem outros.
Essas questões vão ao encontro do tema de uma entrevista desta edição. O antropólogo brasileiro radicado nos Estados Unidos Eduardo Brondizio é um dos coordenadores de um painel da ONU que trabalham em uma avaliação sobre biodiversidade e suas contribuições para a sociedade. O grupo estuda questões que aliam problemas ambientais e sociais, como a conciliação de políticas contra a pobreza com políticas de conservação. Um dos objetivos é ampliar a discussão sobre mudanças climáticas de forma que seu combate não seja visto como um fim em si mesmo, mas como parte de um processo de mudança.
A edição também traz uma presença feminina de peso, algumas como reconhecimento póstumo por sua atuação na ciência, como a matemática iraniana Maryam Mirzakhani, primeira mulher a receber a Medalha Fields, a psicóloga Ecléa Bosi, que se dedicou a estudar a coletividade e a memória, e a etnógrafa austríaca Wanda Hanke, que se aventurou sozinha pelo Brasil na década de 1930. Recentemente premiada pela União Internacional de Química Pura e Aplicada (Iupac), a cristalógrafa Yvonne Mascarenhas, 86 anos, contou em entrevista sobre o início no país da área de conhecimento que usa raios X para investigar a estrutura de moléculas.
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