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AMBIENTE

A luta contra as nuvens de besouros no Piauí

Milhões de insetos destroem cajueiros e outras árvores

CHERMAN, M. A.; ALMEIDA, L. M. de. Dugesiana. 2015 Liogenys pilosipennis, uma nova praga para agricultores do nordesteCHERMAN, M. A.; ALMEIDA, L. M. de. Dugesiana. 2015

Ninguém conseguiu contar, mas provavelmente foram da ordem de milhões os besouros avermelhados que no início de outubro chegaram inesperadamente e devastaram as folhas dos cajueiros e de outras árvores da região de Pio IX, leste do Piauí. Para capturá-los, à noite, agricultores montaram armadilhas luminosas: atraídos pela luz de uma lâmpada, os insetos enchiam baldes de 60 litros, de onde eram depois retirados com pás.

“Em 45 anos, nunca tinha visto uma população tão grande de insetos”, observa o agrônomo Paulo Henrique Soares da Silva, da Embrapa Meio-Norte, sediada em Teresina, capital do estado. “Provavelmente já era conhecido por aqui, mas como praga é a primeira vez.”

A partir de amostras enviadas do campo, o agrônomo Paschoal Coelho Grossi, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), identificou o inseto como Liogenys pilosipennis. Descrito em 2015 na revista Dugesiana como espécie nova por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) com base em exemplares coletados no Cerrado, tem em média 12,5 milímetros (mm) de comprimento e 6 mm de largura.

Balde com besouros coletados à noite por moradores da região de Pio IX

Crédito: Reprodução

No final de outubro, Silva e outros especialistas da Embrapa Meio-Norte e de órgãos de defesa agropecuária do Piauí se reuniram para elaborar um plano de combate à praga, que atacou cajueiros pela primeira vez. Eles recomendaram aos agricultores não aplicar inseticidas, já que a região produz mel orgânico, e continuar usando armadilhas luminosas. “Em alguns locais, principalmente onde usavam armadilhas luminosas, a quantidade de besouros está diminuindo, mas em outros continua aumentando”, comenta Silva.

A seu ver, as nuvens de besouros podem ser uma consequência do período prolongado de chuvas – seis meses, em vez dos três habituais. Em consequência, as larvas, que se alimentam de matéria orgânica em decomposição, tiveram mais tempo para se desenvolver. “Os besouros emergiram em grande quantidade, sem que os inimigos naturais tenham se proliferado na mesma velocidade”, diz o pesquisador. “Os tatupebas [Euphractus sexcinctus], que se alimentam desses insetos, hoje são raros no semiárido.”

Artigo científico
CHERMAN, M. A.; ALMEIDA, L. M. de. New Brazilian species of Liogenys Guérin-Méneville (Coleoptera: Melolonthidae: Melolonthinae) and redescription of two related species. Dugesiana. v. 22, n. 2, p. 171-178. dez. 2015

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