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CEPID

A miséria oculta revelada

CD-ROM e Servidor de Mapas do Centro de Estudos da Metrópole dão retrato real das carências sociais de São Paulo

Você olha pela janela do seu carro e lá está a pobreza, mais do que visível. Mas as estatísticas não são tão palpáveis quanto a realidade, e quando se fala na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) não é difícil que os números se mostrem otimistas, falem em riqueza e escondam boa parte da miséria. “Em geral, as médias escondem a pobreza e sabíamos que era preciso prover o Estado e as pessoas de elementos que permitissem identificar de fato as carências sociais e a falta de acesso aos serviços na RMSP. Assim, disponibilizamos para o setor público não apenas um conhecimento mais fino da situação social, mas ferramentas para a intervenção sobre a realidade”, afirma Argelina Cheibub Figueiredo, diretora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), que é um dos dez Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) apoiados pela FAPESP.

O CEM lança, neste mês, produtos que, além de apoiar os cerca de 20 projetos de pesquisa que desenvolve, ajudarão a minimizar essa imprecisão e facilitarão o acesso do público em geral a informações sobre a RMSP. O primeiro deles é um CD-ROM com dados censitários desagregados da RMSP. Ele contém a cartografia digital e os dados do questionário dos censos demográficos de 1991 e de 2000 e da Contagem Populacional de 1996, todos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Grande parte da digitalização desses dados foi realizada pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), que é uma parceira do CEM nesse projeto.

As informações referem-se a 21 municípios da RMSP, compreendendo cerca de 95% de sua população. Serão produzidas inicialmente 200 unidades do CD-ROM, que serão distribuídas gratuitamente ao setor público e a pesquisadores por meio de pedido via e-mail. Esse CD traz também o programa gratuito Terraview, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que tem por objetivo tornar a cartografia digital cada vez mais acessível a usuários brasileiros.

“Com esse CD-ROM, o CEM dá acesso a um conjunto integrado de informações, antes dispersas em várias agências do setor público e em empresas que cobravam por esse serviço. Os dados do CD-ROM já estão sendo usados em cursos de introdução ao uso de um Sistema de Informações Geográficas (SIG) para o pessoal do setor público ligado à formulação de políticas sociais”, diz Argelina.

As áreas com alta concentração de pobreza ou atendidas insuficientemente por políticas públicas aparecem com clareza, já que o tamanho dos setores censitários é restrito a 300 famílias. Com essa desagregação das informações, já que são mais de 20 mil setores para a RMSP em 2000, torna-se possível identificar os grupos sociais que, no interior de cada um dos municípios ou na confluência de municípios, deveriam ser o alvo preferencial de políticas sociais. “Constitui, assim, um instrumento fundamental para que o poder público possa tomar suas decisões e beneficiar grupos sociais que, sem essa ferramenta informativa, estariam excluídos das políticas governamentais”, afirma a professora. Ela ressalta também que as informações permitirão a pesquisadores refinar o conhecimento existente sobre os inúmeros processos sociais em curso na metrópole.

A utilização desses dados de forma associada a um SIG sobre prestação de serviços públicos, como vem sendo feito pelas pesquisas do CEM, permite traçar um diagnóstico das demandas latentes, ou seja, de grupos que, em razão das próprias condições de vulnerabilidade em que vivem, não têm meios de canalizar suas demandas.

Educação e desenvolvimento
Nessa linha de ação, o CEM já desenvolveu estudos nas áreas de planejamento urbano, para a prefeitura de Mauá, de educação, para as prefeituras de Guarulhos, Embu e São Paulo, e vem fazendo pesquisas nas áreas de habitação, assistência social e desenvolvimento econômico para a prefeitura de São Paulo. Um outro produto que está em funcionamento é o Servidor de Mapas, que pode ser acessado via Internet pelo www.centrodametropole.org.br, site no qual os pesquisadores e gestores públicos podem encontrar também parte da produção de pesquisas do CEM. O aplicativo, cuja tecnologia foi desenvolvida pelo CEM com apoio do Inpe, permite ainda a visualização espacial de indicadores socioeconômicos de variáveis censitárias do IBGE, para os anos de 1991, 1996 e 2000.

“Ao contrário de outros aplicativos semelhantes existentes em instituições como o IBGE, cujo servidor de mapas só disponibiliza dados por municípios, o servidor do CEM mostra-os por distrito (são 162 na RMSP)”, explica Argelina. O sistema oferece recursos de zoom, busca seletiva, elaboração de legendas e impressão dos mapas. Entre os dados que poderão ser encontrados por esse instrumento estão: população, gênero, idade, escolaridade, rendimento, condições de domicílio, escolaridade e migração. Mais tarde, os interessados terão acesso também a dados referentes a eleições, equipamentos culturais, igrejas e políticas públicas. “O aplicativo foi desenvolvido de forma a facilitar ao extremo o seu uso, permitindo mesmo a um aluno da 7ª série manuseá-lo sem problemas”, garante a diretora do CEM.

Por meio desses produtos, o CEM, com sede no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), cumpre uma de suas funções como Cepid. “Um dos principais objetivos da FAPESP ao criar um Cepid foi o de vincular estreitamente as atividades de pesquisa à transferência e à difusão de conhecimentos. Com esses produtos, garantimos o acesso fácil e sem custo a informações georreferenciadas aos pesquisadores, pessoal do setor público e população em geral, para formulação e avaliação de suas políticas públicas”, afirma a professora Argelina.

O projeto
Centro de Estudos da Metrópole (Cepid); Coordenadora Argelina Cheibub Figueiredo – Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap); Investimento R$ 4.283.995,70 (total por cinco anos)

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