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Carta do Editor | 240

A obesidade no cérebro

A reportagem de capa desta edição destaca pesquisas sobre obesidade voltadas para o cérebro, órgão muito menos visado do que o coração quando se trata de analisar efeitos positivos ou nocivos dos vários tipos de gordura no organismo humano. Nos últimos anos foram publicados trabalhos científicos com indícios de que o consumo excessivo de alimentos com gorduras saturadas e trans produziria uma inflamação constante no hipotálamo, que fica na base do cérebro. A consequência seria a morte dos neurônios responsáveis por controlar as sensações de fome e de saciedade e o gasto de energia. Agora, pesquisadores do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades, um dos 17 Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) financiados pela FAPESP, sugerem que esse dano cerebral poderia ser parcialmente revertido por meio do consumo de alimentos ou compostos ricos em outro tipo de gordura, as insaturadas, as mesmas que são benéficas ao coração.

Uma das conclusões que se pode tirar das pesquisas em andamento é a confirmação de que obesidade não deve ser vista como falta de esforço pessoal, mas como doença. As lesões no hipotálamo provavelmente não são a única causa do problema; há outros fatores que contribuem para o acúmulo excessivo de gordura. O caminho aberto pelos pesquisadores ajuda a entender algumas das complexas questões que envolvem a obesidade.

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Uma novidade começa a aparecer com força nas pesquisas de genética de todo o mundo: a técnica de edição de DNA chamada CRISPR-Cas9. O sistema consiste em usar uma proteína guiada por uma molécula de RNA que corta as fitas de DNA em pontos exatos para reparar o material genético, desativando genes ou inserindo alterações. Destacada pela revista Science como o grande avanço (breakthrough) de 2015, a técnica foi descoberta em 2012, continua a ser desenvolvida e tem grande potencial para ser utilizada em aplicações médicas. No Brasil, antes de os geneticistas começarem a trabalhar, era preciso conhecê-la. Pesquisadores de São Paulo foram então a laboratórios do exterior – com bolsas e auxílios financeiros da FAPESP – aprender como funciona o CRISPR-Cas9, retornaram e repassaram o conhecimento para outros geneticistas.

Hoje há linhas de pesquisa usando a técnica para estudar da leucemia à síndrome de Marfan, do Trypanossoma cruzi ao Aedes aegypti. Os trabalhos feitos no Brasil começaram há pouco tempo e ainda são incipientes, mas devem ganhar volume e importância em poucos anos. Pela facilidade de trabalhar com o sistema, os procedimentos estão ao alcance da maior parte dos laboratórios de genética brasileiros. Como toda grande inovação na área envolvendo manipulação gênica, o desenvolvimento trouxe consigo obstáculos éticos a serem resolvidos – uma das possibilidades ainda não comprovadas da CRISPR-Cas9 é a de produzir bebês sob medida.

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Na área das ciências humanas e sociais, a novidade vem do passado. Com coordenação binacional na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Universidade de Versailles-Saint-Quentin, na França, um abrangente projeto recuperou a intensa troca cultural que havia no século XIX entre o Brasil e a Europa. Era um tipo de globalização de mão dupla que contemplava a circulação de impressos como livros, jornais, revistas, folhetins, libretos e partituras. É uma história esquecida que vale a pena conhecer.

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