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pesquisa empresarial

A química do futuro

A Basf mantém no país dois laboratórios globais e estrutura de pesquisa voltada principalmente para o agronegócio e a construção civil

A partir da esquerda: Adriana Moura, Marlon Santos, Chrystiane Nunes, Rony Sato, Daniela Contri, Nina Traut

léo ramos A partir da esquerda: Adriana Moura, Marlon Santos, Chrystiane Nunes, Rony Sato, Daniela Contri, Nina Trautléo ramos

Presente no país há mais de 100 anos, a Basf é uma das empresas químicas líderes em inovação no mundo. O Brasil, responsável por cerca de 60% dos negócios na América do Sul, participa do ecossistema global de pesquisa e desenvolvimento (P&D) do grupo, cuja sede é em Ludwigshafen am Rhein, na Alemanha. A unidade brasileira abriga dois laboratórios de classe global e se destaca pelas atividades inovativas voltadas à agricultura, como as culturas de soja e cana-de-açúcar, e ao segmento de tintas imobiliárias, aquelas que são usadas na pintura de paredes de imóveis. Uma das mais recentes tecnologias criadas pelos pesquisadores brasileiros é a soja Cultivance, a primeira variedade geneticamente modificada totalmente desenvolvida no país. Fruto de uma parceria de 10 anos com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), ela começou a ser comercializada em junho deste ano e já está aprovada para uso na União Europeia e em quase outros 20 países.

“A soja Cultivance foi a primeira variedade na área de biotecnologia vegetal aprovada comercialmente em toda a Basf. Esse lançamento revela a importância do Brasil no contexto global de inovação do grupo”, afirma o gerente de Tecnologia e Inovação, Rony Akio Sato. Segundo ele, o Sistema de Proteção Cultivance é ideal para o manejo integrado de espécies invasoras nos cultivos. “Ele combina cultivares de soja geneticamente modificada, de potencial genético competitivo, ao uso do herbicida de amplo espectro para controle de plantas daninhas de folhas largas e gramíneas”, explica Daniela Contri, gerente de Inovação e Estratégia para a América Latina.

Empresa
Basf
Centro de P&D
São Paulo, SP
Nº de funcionários
4,2 mil no país
Principais produtos
Sementes de soja, mudas de cana-de-açúcar, tintas para imóveis, defensivos agrícolas, insumos para medicamentos e ingredientes para plásticos

Outra tecnologia desenvolvida no país foi o sistema AgMusa, direcionado à cultura da cana-de-açúcar. Trata-se de um sistema tecnológico para a renovação de canaviais com alto rendimento, por meio da produção de mudas sadias de cana-de-açúcar a partir de viveiros formados com variedades obtidas de empresas e instituições especializadas em melhoramento genético. As mudas passam por um tratamento que lhes garante alto vigor, além de uma identidade genética homogênea para a formação de viveiros. O sistema permite a introdução de um novo cultivar no campo de forma acelerada. No método convencional de multiplicação e formação de viveiros, o produtor trabalha em uma nova variedade durante seis anos antes do uso comercial. Com o sistema AgMusa, o tempo cai pela metade. “Essa tecnologia propicia rápida expansão de novas variedades de cana-de-açúcar com maior potencial produtivo”, conta Daniela Contri.

No setor da construção civil, uma das principais inovações regionais da Basf é a tinta antibactéria Suvinil Família Protegida, que reduz até 99% de microrganismos nas paredes por um período de dois anos – a Basf adquiriu o controle da Suvinil em 1969 e incorporou suas atividades de P&D. O produto tem selo de aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Também na linha Suvinil, a empresa desenvolveu uma tinta acrílica para pinturas externas, fabricada com resinas especiais, que reduz o acúmulo de sujeira na parede e protege contra a ação do vento, e outra tinta com alta concentração e rendimento, denominada Max Rendimento. “A fim de mostrar aos clientes suas inovações voltadas ao mercado imobiliário, a Basf construiu em São Paulo sua primeira casa de eficiência energética em um país de clima tropical – existem outras nove unidades pelo mundo em cidades de clima frio ou temperado”, diz a gerente de Inovação Corporativa, Nina Traut.

Laboratório Global de Meio Ambiente e Segurança Alimentar, em Guaratinguetá (SP): avaliação de resíduos de defensivos agrícolas

divulgação/basfLaboratório Global de Meio Ambiente e Segurança Alimentar, em Guaratinguetá (SP): avaliação de resíduos de defensivos agrícolasdivulgação/basf

Batizada de Casa Ecoeficiente ou CasaE, é um projeto que contempla soluções para a redução de consumo de água, energia e emissão de CO2. O imóvel de 400 metros quadrados exibe 36 produtos criados pela Basf mundial e soluções de 29 empresas parceiras – metade delas brasileiras (Gerdau, Tigre, Deca, Tecmar, entre outras). São pisos drenantes construídos com concreto permeável ou compostos de poliuretano de alta permeabilidade para passagem de água, além de pigmentos frios aplicados em tintas que ajudam a regular a temperatura do ambiente. “Graças ao uso de materiais construtivos diferenciados, a economia de energia da CasaE pode chegar a 70%”, diz Sato. O projeto recebeu certificação LEED-NC Gold (Leadership in Energy and Environmental Design), concedida a novas construções sustentáveis pela Green Building Council, organização presente em mais de 90 países que visa fomentar a indústria de construção sustentável no mundo.

As atividades de P&D no Brasil se iniciaram na década de 1950 com a instalação dos primeiros laboratórios de desenvolvimento de aplicações, que visavam à transferência de tecnologia. Hoje, a Basf conta no Brasil com 4,2 mil colaboradores, distribuídos no escritório central em São Paulo e em nove unidades industriais. A multinacional não revela o número de colaboradores envolvidos com P&D no país, nem o valor investido na área. Informa que o perfil da equipe dedicada à atividade de P&D é diverso e compreende agrônomos, químicos, biólogos, engenheiros químicos e farmacêuticos. Mais de 80% deles têm graduação, sendo 11% mestres e 3% doutores – três em cada 10 pesquisadores são do sexo feminino. Declara ainda que interage anualmente com cerca de 60 a 80 instituições de pesquisa nacionais na busca por inovações. São parceiros da Basf, além da Embrapa, as universidades estaduais Paulista (Unesp), de Campinas (Unicamp) e de Maringá (UEM).

Pisos drenantes feitos de poliuretano ou concreto instalados na Casa Ecoeficiente, em São Paulo

Juliana TahiraPisos drenantes feitos de poliuretano ou concreto instalados na Casa Ecoeficiente, em São PauloJuliana Tahira

Classe internacional
Localizada no interior paulista, a fábrica de Guaratinguetá é o maior complexo químico da multinacional na América do Sul. Ela responde pela produção de 1.500 diferentes itens e abriga um dos dois centros mundiais de pesquisa do grupo no país, o Laboratório Global de Meio Ambiente e Segurança Alimentar (Gencs, em inglês). “No Gencs são realizados estudos para avaliação de resíduos de defensivos agrícolas nos alimentos, além de estudos ambientais exigidos pelas autoridades reguladoras brasileiras e internacionais para registro de novos produtos e extensão de uso dos já existentes”, informa Sato. Ele explica que esses estudos se iniciam ainda no campo, quando os cientistas simulam qual é a recomendação de uso dos defensivos em cada cultivo específico de interesse (café, milho, hortifrútis etc.). Depois, os pesquisadores coletam amostras vegetais e as enviam para análise em laboratório. Nessa fase, as amostras são processadas e analisadas utilizando-se técnicas de purificação e quantificação. “Com base nos resultados dos estudos de resíduos e nos dados toxicológicos é feita a comprovação da segurança alimentar, assegurando que as inovações da Basf para o setor agrícola cumprem com os requisitos regulatórios e de sustentabilidade.” Desde 2001, o Gencs possui reconhecimento do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) em Boas Práticas de Laboratório, o que garante a rastreabilidade e a confiabilidade dos estudos conduzidos no local.

O outro laboratório de classe internacional no Brasil é a Estação Experimental Agrícola de Santo Antônio de Posse, na região de Campinas. Fundada há 35 anos, ela ocupa 110 hectares e é o maior espaço físico de pesquisa da companhia no mundo. A estação responde por 45% das pesquisas no país. Criada com o objetivo de descentralizar os estudos na área agrícola que inicialmente eram feitos exclusivamente na Alemanha, o centro de pesquisa é o único do gênero abaixo da linha do Equador. Lá, são desenvolvidos defensivos agrícolas para os cultivos de soja, cana, milho, café, arroz, feijão, entre outras culturas, e testadas as atividades biológicas de defensivos contra ervas daninhas, doenças e pragas que atacam as plantações. A estação pertence à Unidade de Proteção de Cultivos, responsável pelo desenvolvimento do Sistema de Produção Cultivance e do AgMusa.

Fachada da Casa Ecoeficiente (CasaE): soluções que economizam 70% no gasto com energia

João AthaídeFachada da Casa Ecoeficiente (CasaE): soluções que economizam 70% no gasto com energiaJoão Athaíde

A estrutura de pesquisa da Basf no país também conta com o Centro de Aplicações de Nutrição e Saúde, único do gênero da empresa na América do Sul. Localizado em Jacareí (SP), ele é dotado de um laboratório farmacêutico especializado na elaboração de formas farmacêuticas sólidas e uma cozinha-laboratório, intitulada Newtrition, para desenvolver tecnologias e protótipos alimentares, focada no setor de panificação, biscoitos e confeitaria.

Inovação global
A área de inovação da Basf é composta por mais de 70 centros globais de P&D e 10 mil pesquisadores, o equivalente a 10% de seu quadro funcional. Em 2015, a linha de pesquisa da multinacional abrangeu cerca de 3 mil projetos e recebeu investimentos de € 1,95 bilhão (cerca de R$ 7 bilhões). O valor equivale a aproximadamente 3% de suas vendas globais, de € 70 bilhões (R$ 251 bilhões) – desse total, € 10 bilhões (R$ 35,9 bilhões) são provenientes de inovações em produtos. Dona de um portfólio composto por 8 mil famílias de produtos, que se desdobram em 60 mil aplicações, a empresa fabrica desde químicos, plásticos e defensivos agrícolas até insumos para medicamentos e tintas imobiliárias. O foco da companhia não são produtos de prateleira, destinados ao consumidor – como as antigas fitas cassete Basf, um dos itens de maior visibilidade da empresa no Brasil –, mas insumos, formulações, ingredientes, matérias-primas e intermediários para diversos setores produtivos.

Entre as inovações nascidas nos centros de pesquisa da multinacional no exterior, há o pigmento indigo blue que confere a cor azulada às calças jeans e é usado pelas indústrias têxteis; o poliestireno e os insumos empregados na fabricação de brinquedos de plástico, como as peças do Lego. “A busca por inovação é constante na Basf”, afirma Sato. Prova disso, segundo ele, é que são depositadas anualmente 1,3 mil patentes, em média. “Há cinco anos, somos líderes do Patent Asset Index, um índice global criado pelas principais indústrias químicas – Bayer, Dow, Du Pont, Evonik e Basf – para medir o valor das patentes em termos de competitividade tecnológica de impacto nos negócios e mercado”, afirma.

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