Os campos de várzea nas regiões centrais de São Paulo estão desaparecendo. O crescimento urbano e a especulação imobiliária, acelerados nas últimas décadas, apagaram muitas das áreas onde, por gerações, boleiros se reuniam para jogar. No entanto, em meio ao concreto e às transformações da cidade, um espaço ainda resiste: o Complexo Esportivo do Campo de Marte, um verdadeiro oásis para o futebol de várzea.
Localizado no bairro da Casa Verde, a cerca de 4 quilômetros do centro da cidade, o complexo ocupa aproximadamente 50 mil metros quadrados (m2), cercados por vegetação remanescente de Mata Atlântica. O terreno onde ficam os campos integra o território do Campo de Marte, controlado pela Aeronáutica, onde opera um aeroporto para aviação empresarial e hangares de empresas de helicópteros. Com mais de 2 milhões de m2, durante cerca de 60 anos o local esteve no centro de uma disputa judicial entre a União e a prefeitura de São Paulo. Em 2022, o governo federal e o município assinaram acordo estabelecendo que a propriedade da área do aeroporto e de outras dependências gerenciadas pela Aeronáutica são da União. Já a área do terreno que não está ocupada por instalações federais – caso do complexo esportivo – foi devolvida ao município.
A área mantém viva uma tradição que há muito tempo molda a identidade esportiva de diferentes cidades brasileiras, conforme mostra a reportagem “Como as mudanças urbanas redefinem o futebol de várzea”. Para este ensaio, o fotógrafo Léo Ramos Chaves, de Pesquisa FAPESP, visitou o complexo do Campo de Marte em um domingo ensolarado de fevereiro, quando os seis campos de futebol estavam ocupados por atletas de todas as idades.