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Resenhas

Você tem sede de quê?

Estudo ressalta necessidade de gerenciamento dos rios brasileiros

O autor do livro Água no Século XXI, José Galizia Tundisi, figura na galeria dos maiores limnologistas do mundo, ressaltando-se tanto o rigor científico quanto profissional e o ineditismo da sua abordagem em meio tropical e subtropical, principalmente. Como limnólogo, desenvolve pesquisas sobre os mecanismos de funcionamento de lagos, rios, açudes – as-sudd -, palavra de origem moura que significa represa d’água – especialmente.

Ao apresentar os problemas críticos resultantes da ação humana sobre o ciclo hidrológico terrestre, o professor insiste nos alcances ambiental, social e econômico da gestão integrada e dinâmica de bacias hidrográficas, no Brasil, em particular. A riqueza de informações disponibilizadas pelo autor possibilita avaliar a degradação da qualidade da água dos nossos rios, lagos, pantanais ou açudes, decorrente do vexatório quadro sanitário das nossas cidades, principalmente.

Discute, também, os aspectos ambientais, econômicos e sociais do uso múltiplo da água no mundo, em geral, e no Brasil, em particular. Apresenta o arcabouço institucional/legal vigente no Brasil a partir da Constituição de 1988, principalmente a lei nº 9.433/97 (conhecida como Lei das Águas), a qual organizou o setor de planejamento e gestão dos recursos hídricos em âmbito nacional, introduzindo vários instrumentos de política para o setor. Como fato relevante e novo teve-se a promulgação da lei federal nº 9.984/00, que criou a Agência Nacional de Águas (ANA), entidade reguladora da utilização das águas de domínio da União.

Professor titular do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC/USP) e presidente do Instituto Internacional de Ecologia (IIE), o autor enfoca temas ambientais, em geral, e de recursos hídricos, em particular, ressaltando a necessidade de gerenciamento integrado e dinâmico das águas que fluem pelos rios (blue water flow), das águas que infiltram nos terrenos da bacia hidrográfica em apreço e dão suporte ao desenvolvimento da biomassa natural ou cultivada (green water flow), das águas subterrâneas, as quais alimentam as descargas dos rios durante os períodos sem chuvas (gray water flow), e reúso de água. Insiste sobre a necessidade de uma organização institucional e gerencial da oferta e do uso cada vez mais eficiente da gota d’água disponível, tanto nas cidades quanto nas indústrias e na agricultura, principalmente.

O texto apresentado permite, portanto, uma visão conjunta, atualizada e necessária da gestão integrada e dinâmica das águas do mundo, em geral, e do Brasil, em particular, constituindo, sem dúvida, excelente contribuição ao conhecimento atual sobre o assunto. No Brasil, em particular, este livro vem preencher uma grande lacuna na abordagem especializada sobre um assunto antigo, mas polêmico, que é a gestão integrada e dinâmica das águas em prol do desenvolvimento sustentável. Esse desenvolvimento implica é, claro, limitações impostas pelo estágio atual da tecnologia e da organização dos três setores principais considerados nas últimas décadas no mundo, em geral: (i) o sistema político ou de governo, também dito de primeiro setor, (ii) as empresas ou segundo setor e (iii) a sociedade civil organizada ou o terceiro setor.

É evidente, certamente, que um mundo onde a pobreza é endêmica estará sempre sujeito a catástrofes ecológicas e crises de água ou de outra natureza. No Brasil, em particular, embora se ostente a maior descarga do mundo de água doce nos rios, lutar pelo uso cada vez mais eficiente da gota d’água disponível é lutar contra a pobreza, pela vida, pela saúde e pela comida para todos.

Aldo da C. Rebouças é pesquisador da Área de Ambiente e Recursos Hídricos do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP)

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