Uma combinação de anticorpos ultrapotentes pode ser um novo rumo para combater o vírus causador da Aids, HIV-1, segundo mostra artigo na Nature desta semana (25/10) liderado pelo imunologista brasileiro Michel Nussenzweig.
Pesquisador da Universidade Rockefeller, em Nova York, Nussenzweig há anos busca formas de usar anticorpos como base de uma vacina contra o HIV (ver Coquetel de anticorpos). Mas o medicamento a que chegou agora não é uma vacina. “Para isso, teríamos que ensinar o sistema imunológico”, explica, “trata-se de um tratamento passivo”. O segredo para uma batalha bem-sucedida pode estar no uso de conjuntos de anticorpos que ataquem diferentes partes do vírus, dificultando a corrida evolutiva na qual os microrganismos costumam ganhar dos pesquisadores.
O estudo foi feito em camundongos artificialmente dotados de sistema imunológico humano, o que os torna suscetíveis ao vírus da Aids. As armas usadas contra os vírus são anticorpos mais potentes do que os habituais, produzidos naturalmente por alguns pacientes humanos e em seguida reproduzidos em laboratório como anticorpos monoclonais. O trabalho do grupo de Nussenzweig mostrou que o tratamento com um único anticorpo reduz a carga viral, mas ela volta a subir duas semanas depois de encerrada a medicação. Uma combinação de três anticorpos teve resultados um pouco melhores, mas o tratamento mais promissor reuniu cinco desses componentes do sistema imunológico. Neste último caso, alguns dos camundongos testados mantiveram níveis virais abaixo do detectável por 60 dias depois de encerrado o tratamento. “Estamos agora buscando otimizar, de maneira a poder usar um único anticorpo”, conta Nussenzweig, que já sabe em qual parte do vírus deve mirar para evitar que ele escape por meio de mutações.
Uma vantagem importante dessa estratégia, em comparação aos coquetéis de antivirais, é a falta de efeitos adversos, já que os anticorpos não são estranhos ao organismo. O efeito de longa duração se deve a sua permanência mais prolongada, em relação aos medicamentos. Essa permanência, ou meia-vida, é ainda mais longa em seres humanos do que roedores, o que pode revelar boas surpresas quando forem iniciados os testes clínicos. O pesquisador ainda é cauteloso: “não achamos que podemos curar as pessoas assim, mas temos que tentar”. Se conseguir desenvolver um medicamento que precise ser usado apenas uma ou duas vezes por ano, já é um grande avanço em relação ao coquetel antirretroviral usado hoje.
Michel Nussenzweig vive nos Estados Unidos desde a infância, quando os pais, os pesquisadores Victor e Ruth, se instalaram por lá para um pós-doutorado. Victor teve recentemente um projeto aprovado dentro do São Paulo Excellence Chairs (SPEC), programa piloto da FAPESP que busca estabelecer colaborações entre instituições de pesquisa de São Paulo e cientistas de alto nível radicados no exterior.
Texto atualizado em 29/10/2012
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