Na palestra “É possível produzir um Einstein? Algumas reflexões sobre Einstein e a educação”, o filósofo Antônio Augusto Videira, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), falou da visão do físico alemão sobre a educação. Einstein era contra o ensino voltado a formar especialistas e acreditava que a educação deveria se preocupar em forjar seres harmoniosos, com múltiplas habilidades, a serviço de sua comunidade. “Infelizmente, muito pouco do que Einstein defendeu para a educação é aplicado hoje”, afirmou o filósofo, na apresentação feita em 1° de novembro.
Videira disse que a visão de Einstein sobre educação foi influenciada pela experiência pessoal do físico. Durante a infância e a juventude, Einstein morou em diferentes cidades alemãs e mesmo no exterior – na Itália e depois na Suíça, onde estudou na Escola Politécnica de Zurique –, e essas mudanças freqüentes fizeram com que ele entrasse em contato com distintas culturas. Embora fosse judeu, Einstein chegou até a ter aula numa escola católica num período da infância. “Seu pensamento sobre educação é extraído daquilo que ele aprendeu nesses diversos contextos culturais, sociais e pedagógicos”, afirmou o filósofo da Uerj.
Para o físico alemão, as pessoas deveriam ser responsáveis por sua própria formação, e não apenas depender da instrução formal. Einstein, por exemplo, sempre leu muito, tendo entrado em contato com as idéias de físicos e filósofos, como Immanuel Kant e David Hume, ainda antes da adolescência. Isso não quer dizer que o físico fosse simplesmente um defensor do autodidatismo. Einstein não era contra o ensino formal ou o professor, mas a favor de que os alunos de uma escola ou universidade se sentissem envolvidos em seu processo de formação.
Einstein acreditava que não era necessário ser especialista em ensino para falar sobre educação. “Ele sempre foi contra a idéia de que a educação tem como principal objetivo formar especialistas”, afirmou Videira. O fílósofo citou duas frases do físico que sintetizam essa visão não-utilitarista da educação: “Não basta ensinar ao homem uma especialidade, porque assim ele se tornará uma máquina utilizável, mas não uma personalidade” e “Os excessos do sistema de competição e de especialização prematura assassinam o espírito e impossibilitam qualquer vida cultural e chegam a suprimir os progressos nas ciências do futuro”. O gênio alemão também achava que a educação das pessoas tinha de privilegiar a noção de prestação de serviços para a comunidade e servir de base para a formação de um pensamento independente.
O pesquisador da Uerj afirmou que as teses de Einstein sobre educação são diametralmente opostas às idéias dominantes no ensino atual. “Nossos cursos são cada vez mais especializados e as pessoas estão sempre preocupadas com diplomas que vão lhes permitir obter um emprego”, comentou Videira. “As idéias de Einstein são bonitas, mas infelizmente muito pouco praticadas.” Einstein achava que a educação deveria auxiliar o ser humano a atingir sua plenitude, que deveria ser formada por múltiplas competências. “Em vez de nos preocuparmos com as excelências no sentido de sermos sempre os melhores, de tirarmos sempre 10, seria melhor tirarmos várias notas 7 desde que esses 7 pudessem estabelecer uma sólida personalidade”, explicou o filósofo.
Aula socrática
Com exceção do início da carreira, quando exerceu de forma intensiva a função de professor, Einstein nunca deu muitas aulas, muito menos aulas formais. Mas o físico gostava de interagir com estudantes e assistentes. Só era avesso a dar aulas meramente expositivas, como faziam os professores catedráticos, e também não era favorável a submeter os alunos a um excesso de provas e testes. Videira comentou que um assistente de Einstein dizia que o gênio gostava de dar aulas ao estilo de Sócrates, o antigo filósofo grego, privilegiando o diálogo e a troca de informações entre o mestre e os alunos.
Antes de terminar a palestra, Videira respondeu à questão, em parte retórica, se é possível produzir um Einstein. “Acho que podemos responder de duas maneiras: com um sim e com um não”, disse o pesquisador. O não foi justificado pelo fato de ser impossível, a seu ver, produzir um gênio, algo “infabricável”. O sim mereceu outro tipo de explicação. “Se estivermos preocupados em fazer com que as pessoas se sintam responsáveis e satisfeitas com a sua própria formação, nesse caso acho que sim. Acho que podemos produzir não apenas um, mas muitos Einsteins”, ponderou. O filósofo encerrou a apresentação com mais uma citação do físico sobre ensino: “Parece que a reputação científica e as qualidades pessoais nem sempre caminham lado a lado; para mim uma pessoa harmoniosa é mais válida do que o mais sofisticado criador de fórmulas ou inventor de sistemas”.
É possível produzir um Einstein? Algumas reflexões sobre Einstein e a educação
Antônio Augusto Passos Videira, filósofo, professor adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e pesquisador visitante no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF)