O fármaco imunomodulador P-Mapa mostrou-se capaz de ativar o sistema imune de várias formas, estimulando a produção de proteínas, de células de defesa e de moléculas de comunicação chamadas citocinas, favorecendo, desse modo, a destruição de tumores e de microrganismos causadores de doenças infecciosas, de acordo com experimentos realizados nos últimos anos com modelos animais em universidades do Brasil e dos Estados Unidos.
No dia 8 de junho, em um seminário internacional sobre câncer, inflamação e imunidade realizado na FAPESP, Wagner Fávaro, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), apresentou pela primeira vez um detalhado mecanismo de ação desse composto, em fase final de desenvolvimento.
Além de ativar receptores do tipo toll e aumentar os níveis da proteína p53, como descrito em um artigo de 2012, que estabeleceu uma forma de ação comum do P-Mapa contra câncer de bexiga e tuberculose, o P-Mapa pode induzir a produção de óxido nítrico e de citocinas, como o interferon-gama, como indicado em um estudo de 2015.
Em consequência dessa ação ampla sobre o sistema imune, por meio de experimentos realizados em modelos animais na Unicamp desde 2009 em colaboração com a rede de pesquisas Farmabrasilis, Fávaro verificou que o P-Mapa reduz a irrigação sanguínea e nutrição (efeito antiangiogênico) de tumores em câncer de bexiga, o que induz a morte celular (apoptose) e favorece a reconstrução dos tecidos lesados. Os resultados serão detalhados em um artigo já aceito para publicação na BMC Cancer.
Diante das evidências experimentais, Fávaro comentou que o P-Mapa “é um candidato viável para um novo medicamento contra câncer de bexiga”. Segundo ele, o medicamento mais utilizado contra câncer de bexiga é a vacina BCG (Bacilo Calmette-Guérin), que estimula o sistema imune para combater o tumor, mas apresenta efeitos colaterais indesejados, como febre e hematúria (eliminação de sangue pela urina). Além disso, segundo Fávaro, cerca de 60% dos pacientes tratados mostram intolerância ao BCG e em metade dos casos o tumor reaparece após quatro anos. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), todos os anos são registrados cerca de 7.200 novos casos e 3 mil mortes causadas por câncer de bexiga no Brasil.
O mecanismo de ação – principalmente a capacidade de o P-Mapa estimular a produção de interferon-gama e de modular os níveis da proteína p53 – ajuda a entender resultados contra microrganismos obtidos em estudos anteriores. Uma equipe da Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Araçatuba verificou que o P-Mapa foi capaz de deter leishmaniose em cães, e outra, da Universidade de Utah, dos Estados Unidos, usou o fármaco para deter o vírus Punta Toro, com uma ação mais rápida e uma dosagem menor que a ribavirina, o medicamento usado como padrão de comparação.
O projeto
Mecanismos e efeitos do imunomodulador P-Mapa no tratamento dos cânceres de próstata e não músculo invasivo da bexiga urinária: Interfaces entre metabolismo energético, balanço oxidativo, angiogênese e via de sinalização dos receptores toll-like (no 2014/12047-4); Modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular; Pesquisador responsável Wagner José Fávaro; Investimento R$ 223.585,87.
Artigos científicos
GARCIA, P. V. et al. Alterations in ubiquitin ligase Siah-2 and its corepressor N-CoR after P-MAPA immunotherapy and anti-androgen therapy: New therapeutic opportunities for non-muscle invasive. International Journal of Clinical and Experimental Pathology. v. 8, n. 5, p. 4427-43, 2015.
FÁVARO, W. J. et al. Effects of P-MAPA immunomodulator on toll-like receptors and p53: Potential therapeutic strategies for infectious diseases and cancer. Infectious Agent and Cancer. v. 7, n. 1, p. 14, 2012.
MELO, L. M. et al. Effects of P-MAPA immunomodulator on toll-like receptor 2, ROS, nitric oxide, MAPKp38 and IKK in PBMC and macrophages from dogs with visceral leishmaniasis. International Immunopharmacology. v. 18, n. 2, p. 373-8, 2014.
DURAN, N. et al. A biotechnological product and its potential as a new immunomodulator for treatment of animal phlebovirus infection: Punta Toro virus.Antiviral Research, v. 83, n. 2, p. 143-7, 2009.