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acervo coletivo

As cidades em imagens

Projeto Arquigrafia Brasil propõe fortalecer a cultura visual de arquitetura e espaços urbanos

acervo arquigrafiaDetalhe do pilar da estação rodoviária de Jaú (SP), de João Vilanova Artigasacervo arquigrafia

Ampliar a cultura visual dos internautas brasileiros sobre arquitetura, fazendo com que eles passem a enxergar a cidade com outros olhos e sejam agentes ativos de transformações do espaço urbano, é o principal objetivo da rede social Arquigrafia Brasil. Trata-se de um ambiente colaborativo para visualização, interpretação e compartilhamento de imagens digitais de arquitetura na internet lançado no final de abril por um grupo de professores da Universidade de São Paulo (USP). A iniciativa também pretende contribuir para o estudo, a docência, a pesquisa e a difusão da cultura arquitetônica e urbanística do país, permitindo que professores, estudantes, profissionais do setor e usuários em geral acessem fotografias digitais e façam comentários a partir de seus computadores, tablets e smartphones.

O projeto tem como objetivo digitalizar e permitir o acesso público a um acervo composto por 37 mil imagens pertencentes ao Setor de Audiovisual da Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), considerado um dos mais importantes do gênero do país – as fotos que ilustram esta reportagem fazem parte da coleção. A intenção dos idealizadores é que o acervo seja expandido com a inclusão de novas imagens de autoria dos próprios internautas, que poderão inserir livremente suas fotos de arquiteturas e espaços urbanos no site.

Por suas características inovadoras, o Arquigrafia Brasil foi o vencedor da categoria Tecnologias Sociais Aplicadas e Humanas da Olimpíada USP de Inovação de 2011. “O Arquigrafia vai seguir o modelo colaborativo do site Wikipedia: qualquer pessoa poderá incluir imagens nele, fazer comentários ou alterar as informações de referência das fotos já postadas. O acervo será criado coletivamente na rede”, destaca o arquiteto e urbanista Artur Rozestraten, professor do departamento de tecnologia da FAU/USP e um dos coordenadores do projeto.

Uma das inovações da rede social, segundo o arquiteto, é unir em um mesmo espaço um acervo institucional – no caso o da biblioteca da FAU – a um criado pelos usuários. “Existem vários bancos institucionais de imagens pelo mundo, como o do Instituto Nacional de História da Arte, de Paris, ou do Instituto Moreira Salles, no Brasil. Mas são raros aqueles que mesclam coleções institucionais e pessoais. Acreditamos que a construção de um acervo se dá de forma mais abrangente quando integramos conjuntos de imagens vindos de instituições e de usuá-rios”, diz Rozestraten. O pesquisador divide a coordenação do projeto com os professores Marco Aurélio Gerosa, do departamento de ciência da computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME), responsável pela construção da plataforma na web, e Maria Laura Martinez, do departamento de jornalismo e editoração da Escola de Comunicações e Artes (ECA), coordenadora do design de interação  centrado no usuário.

O Arquigrafia Brasil é feito com base no software livre Groupware Workbench, desenvolvido pelo IME em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e a Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. Hospedado no Centro de Competência em Software Livre (CCSL) do IME, o Groupware Workbench oferece um rol de ferramentas para construção de sistemas colaborativos na web.

Faculdade de História e Geografia (USP), do arquiteto Eduardo Corona

acervo arquigrafiaFaculdade de História e Geografia (USP), do arquiteto Eduardo Coronaacervo arquigrafia

A versão do site (www.arquigrafia.org.br) levada ao ar no final de abril ainda é um protótipo experimental, com um primeiro conjunto de funcionalidades que está sendo testado pelos usuários. “Nessa fase, os internautas interessados recebem uma senha e nos dão feedbacks sobre a navegabilidade e a eficiência do sistema. Depois, quando a versão final for para o ar, cada usuário poderá criar uma conta no site ou utilizar suas contas de outras redes sociais, como Facebook, Twitter e Google, para acessar o sistema”, explica Gerosa.

A expectativa é que até o final deste semestre a rede esteja totalmente disponível para todos os usuários. Hoje o envio de imagens é permitido apenas para convidados. Em breve também estará disponível o aplicativo móvel que irá permitir acessar o site em tablets e smartphones que utilizam a plataforma Android. “Como as imagens serão georreferenciadas, os internautas poderão circular pelo espaço físico da cidade, interagindo com o acervo digital do site”, diz Gerosa. “Uma pessoa poderá, por exemplo, marcar em seu celular as imagens de prédios modernistas no centro de São Paulo que fazem parte do Arquigrafia e visitá-los.” O site também permitirá que os usuários façam o download em alta definição das imagens que compõem o seu acervo.

O arquiteto e fotógrafo paulista Nelson Kon, dono de um amplo acervo focado em imagens de arquitetura brasileira moderna e contemporânea, acredita que a iniciativa de criação do Arquigrafia é positiva, mas aponta um aspecto que pode comprometer a qualidade da coleção no futuro. “Além das imagens institucionais da biblioteca da FAU, o acervo será montado basicamente por material amador. Dificilmente os fotógrafos profissionais irão disponibilizar suas imagens de arquitetura ou cidade para uso comercial gratuitamente”, diz.

Todas as imagens do site são apresentadas com uma ficha técnica contendo o título, o nome do autor, a data e a localização, além de várias tags – palavras-chave associadas à imagem que ajudam na sua catalogação. São exemplos de tags termos como “concreto”, “madeira”, “fachada”, “hotel”, “piscina” e “jardim”, entre outros. Com auxílio das tags, o internauta poderá procurar por imagens de interesse no site. “Assim que o Arquigrafia Brasil estiver aberto para as colaborações dos internautas, eles mesmos irão inserir suas imagens, identificando-as e colocando as tags”, diz Rozestraten. Os usuários poderão navegar sobre imagens de diferentes períodos históricos e diversos contextos geográficos do Brasil.

Outras funcionalidades colaborativas importantes do projeto são um espaço para o internauta postar comentários sobre as imagens e outro para ele as interpretar visualmente, empregando conceitos-chave referentes às suas qualidades plástico-espaciais. Neste caso, ele usará uma ferramenta na tela para classificar a imagem conforme 12 binômios: horizontal ou vertical, opaco ou transparente, côncavo ou convexo, profundo ou raso, saliências ou reentrâncias, brilhante ou fosco, monocromático ou colorido, escuro ou claro, octogonal ou curvo, perpendicular ou inclinado, irregular ou regular e simples ou complexo.

Para favorecer a disseminação e uso de imagens, o conteúdo do Arquigrafia Brasil é liberado sob licença do Creative Commons, um projeto presente em mais de 40 países que cria um modelo simplificado de gestão de direitos autorais. Ele permite que autores e criadores de conteúdo, como músicos, cineastas, escritores, fotógrafos, jornalistas e outros, tornem disponíveis alguns usos dos seus trabalhos por parte da sociedade. “Quando estiver inserindo a sua foto no Arquigrafia, o internauta deverá declarar se é o autor da obra e se permite modificações e o uso comercial da imagem”, diz Gerosa. “Por se tratar de um software livre, basta ao usuário mudar o código-fonte para criar sistemas colaborativos com imagens de astronomia, esportes, meio ambiente ou de qualquer outro campo do conhecimento”, diz ele.

Os Projetos
1. Rede social Arquigrafia-Brasil estudos fotográficos da arquitetura brasileira na Web 2.0 (nº 2009/18342-0); Modalidade Auxílio Regular a Projeto de Pesquisa; Coordenador Artur Simões Rozestraten – FAU/USP; Investimento R$ 103.960,00 (FAPESP)
2. Suporte à interação social e inteligência coletiva na Web 2.0 (nº 2010/06897-4); Modalidade Auxílio Regular a Projeto de Pesquisa; Coordenador Marco Aurélio Gerosa – IME/USP; Investimento R$ 53.474,98 (FAPESP)

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