Imprimir PDF Republicar

divulgação científica

As razões dos avanços

Editor do jornal Financial Times fala sobre a cobertura de ciência pela mídia

eduardo cesarClive Cookson durante conferência na FAPESP: “A cobertura melhorou, não necessariamente por causa dos jornalistas”eduardo cesar

Exagero, negatividade e militância são os principais erros dos jornalistas que cobrem ciência, segundo Clive Cookson, editor dessa área do jornal britânico Financial Times. No entanto, a cobertura melhorou muito nas últimas décadas e os cientistas já têm menos receio de se expor e de falar com repórteres. Cookson fez essa e outras considerações sobre jornalismo científico durante o evento “Ciência na mídia”, apoiado e realizado pela FAPESP e pela Associação Brasileira de Jornalismo Científico no dia 16 de abril, no qual foi o principal conferencista.

Para ele, o desejo de tornar a notícia mais atraente faz os jornalistas ampliarem a real dimensão dos fatos, o que leva a um exagero. Ao mesmo tempo, para parecer crítico, o jornalista pesa a mão nos aspectos negativos. Por fim, às vezes, ele se entusiasma por determinado tema e começa a fazer campanha em vez de apenas relatar os fatos tais quais ocorreram.

Editor do Financial Times há 20 anos, Cookson cobre ciência e tecnologia há 30 anos. “Vejo que a cobertura hoje é melhor, mas não necessariamente por causa dos jornalistas”, disse ele. “Foram os cientistas que se tornaram mais comunicativos e perceberam a importância de oferecer informações relevantes à mídia.” Uma das razões da mudança foi a percepção dos pesquisadores de que haveria maior probabilidade de conseguir investimento das agências financiadoras públicas e até de instituições privadas para seus trabalhos se fossem entendidos por mais pessoas.

Por outro lado, o editor lembrou que as novas tecnologias da informação tornaram mais fácil a vida do jornalista. A internet possibilita achar artigos científicos, fazer entrevistas e resolver dúvidas com pesquisadores rapidamente. No Reino Unido, há 10 anos funciona o Science Media Centre, uma instituição de cientistas que ajuda quem escreve sobre ciência. “Eles indicam fontes, avaliam artigos e fazem comentários que balizam a ação dos jornalistas”, disse. Para ele, o centro é uma das razões da melhora da qualidade na mídia. Formado em química, Cookson disse que o jornalista que cobre C&T na Inglaterra normalmente é formado em ciência e, se for trabalhar na imprensa, passa por um treinamento específico.

Outros palestrantes participaram do evento na FAPESP para discutir a relação entre jornalistas e cientistas. O biólogo Fernando Reinach, autor de uma bem-sucedida coluna de divulgação científica no jornal O Estado de S.Paulo, reclamou que as reportagens sobre ciência dão ênfase para as descobertas, mas não explicam realmente como aquilo aconteceu. Reinaldo José Lopes, editor de Ciência e Saúde da Folha de S. Paulo, disse que os espaços cada vez menores para esses temas dificultam extraordinariamente o relato das explicações. Thomas Lewinsohn, biólogo da Universidade Estadual de Campinas, afirmou que também as revistas científicas vêm mudando. “Nature e Science, por exemplo, aumentaram as seções com conteúdo noticioso e linguagem mais acessível”, disse. Participaram do “Ciência na mídia”, ainda, Sonia López, ex-editora da agência de notícias AlphaGalileu, Paulo Saldiva, pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, e Roberto Wertman, do programa Espaço aberto, da Globo News.

Republicar