Um levantamento feito com 521 pessoas que trabalharam em bases de pesquisa dos Estados Unidos na Antártida mostrou que 41% delas sofreram pelo menos um incidente de agressão ou assédio sexual em sua temporada no continente gelado – e só um em cada cinco incidentes foi relatado oficialmente pelas vítimas. A pesquisa foi encomendada pela National Science Foundation (NSF), agência de apoio à ciência básica nos Estados Unidos que administra as estações de pesquisa norte-americanas na Antártida, e produzida por uma empresa independente, a Leading and Dynamic Services and Solutions.
Foram entrevistadas pessoas que trabalharam no Programa Antártico dos Estados Unidos entre 2022 e 2024, entre pesquisadores, funcionários públicos e de empresas contratadas, e militares. Os comportamentos mais frequentes relatados tanto por vítimas quanto por testemunhas de casos de assédio foram comentários, piadas ou histórias de cunho sexual; flertes ou elogios abertamente sexuais; e toques corporais indesejados e/ou invasivos. Um quarto dos incidentes se deu em um contexto de consumo de bebidas alcoólicas. Pouco mais da metade das vítimas (53,5%) afirmou ter se sentido nervosa ou com medo de encontrar o agressor e 29,1% relataram que o incidente afetou seu desempenho no trabalho.
Além de monitorar a incidência do problema, a pesquisa foi encomendada para avaliar a eficácia de políticas implementadas nos últimos anos para combater o assédio e a violência sexual entre os participantes do Programa Antártico dos Estados Unidos. Em 2022, outra pesquisa encomendada pela NSF, feita com cientistas e pessoal de apoio das bases de pesquisa, mostrou que 72% das mulheres mencionaram o assédio sexual como um problema em sua comunidade, ante 48% dos homens. Para agressões sexuais, os índices foram de 47% para o público feminino e de 33% para o masculino (ver Pesquisa FAPESP nº 321).
A alta incidência de episódios de assédio levou a NSF a restringir o acesso a bebidas alcoólicas nas bases de pesquisa e a criar uma linha direta, que funciona via telefone, conversas on-line ou mensagens de texto, para apoio a vítimas de importunação e violência.
O relatório sugere que o acesso a informações sobre o assédio aumentou e isso parece ter tido algum impacto no comportamento das pessoas que trabalham nas estações de pesquisa, mas afirma que “há um caminho considerável a percorrer” para alcançar uma melhoria significativa no ambiente de trabalho do Programa Antártico. “Os dados deixam claro que mudanças significativas estão acontecendo, mas que também precisam continuar”, disse, segundo a revista Nature, Renée Ferranti, assistente especial da NSF para prevenção de agressão e assédio sexual, ao divulgar os resultados do levantamento.
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