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BOAS PRÁTICAS

Astrônomo que dirigiu observatório europeu é destituído de universidade por assédio

O astrônomo Tim de Zeeuw, diretor-geral do Observatório Europeu do Sul (ESO) entre 2007 e 2017, foi destituído de suas funções na Universidade de Leiden, nos Países Baixos, após uma investigação concluir que ele intimidou subordinados e teve comportamentos “extremamente inaceitáveis” com colegas do sexo feminino.

De acordo com um comunicado assinado pela presidente do Conselho Executivo da universidade, Annetje Ottow, a investigação apurou denúncias de abuso de poder, discriminação de gênero e difamação e menosprezo de funcionários. “Também inclui comportamento inadequado com elementos de intimidação sexual: desde comentários até contato físico indesejado”, escreveu Ottow. “Tudo isso sob a constante ameaça de prejudicar a carreira dos denunciantes.” O astrônomo está proibido de entrar na universidade e de orientar alunos de doutorado, mas irá manter o emprego e o salário, por estar perto da aposentadoria.

Em 18 de outubro, a universidade anunciou o afastamento de um professor de astronomia, mas não citou o nome alegando restrições impostas pela lei de privacidade dos Países Baixos. Isso gerou especulações e levou astrônomos da instituição a anunciarem que não eram o alvo da punição. “Se você me perguntar se sou eu o professor demitido da Universidade de Leiden, não sou eu”, tuitou Christoph Keller, diretor de ciências do Observatório Lowell, nos Estados Unidos, professor visitante de Leiden.

No dia 26, depois de ter seu nome mencionado em jornais, Tim de Zeeuw reconheceu que se tratava dele. Em declaração à revista Science feita por meio de sua advogada, Merienke Zwaan, admitiu ter sido “desagradável e impaciente à moda antiga” e disse que “já não se encaixa no espírito atual dos tempos”, mas afirmou não concordar com a decisão da universidade. “Nunca foi minha intenção ferir ou prejudicar as pessoas.”

Segundo a advogada, a investigação da universidade concluiu que houve assédio sexual com base em uma correspondência por e-mail e em pelo menos uma “abordagem física indesejada”. Mas negou que seu cliente tivesse um “comportamento sexualmente transgressivo”, como foi apontado em reportagens da imprensa holandesa. O Instituto Max Planck de Física Extraterrestre, em Garching, Alemanha, ao qual o astrônomo era afiliado, anunciou que rompeu laços com ele após as conclusões da investigação da Universidade de Leiden. O ESO, consórcio de 14 países europeus que administra três sítios de observação astronômica no Chile, informou que não tem mais vínculos com o ex-diretor desde 2017, mas proibiu seu acesso a instalações e reuniões e cancelou a conta de e-mail que ele mantinha por cortesia. Em abril de 2013, Tim de Zeeuw concedeu uma entrevista ao site de Pesquisa FAPESP, a propósito da adesão do Brasil ao ESO.

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