A revista de acesso aberto eLife, especializada em artigos sobre ciências da vida, deixará de ter um fator de impacto (FI) a partir deste ano, depois de adotar um novo sistema de avaliação de trabalhos científicos. A empresa Clarivate, que divulga anualmente o FI de milhares de revistas com base em citações de seus artigos nos dois anos anteriores, decidiu retirar o periódico da próxima lista por considerar que ele não se enquadra nos padrões de uma publicação com revisão por pares.
Em janeiro de 2023, a eLife passou a adotar um modelo em que artigos selecionados para serem avaliados são submetidos à análise de especialistas, mas não são “aceitos” ou “rejeitados”, como no sistema tradicional. Todos os trabalhos são publicados como “preprints revisados” (reviewed preprints) e as ressalvas apresentadas pelos avaliadores, mesmo se forem graves, são apresentadas conjuntamente com o paper, em uma espécie de revisão por pares pública. “Esse é um novo tipo de publicação integrada que inclui o artigo, uma avaliação da eLife, análises públicas e uma resposta dos autores (se disponível)”, conforme informa a seção de instruções aos autores do periódico. A Clarivate informou que continuará a indexar em suas bases de dados os artigos da eLife considerados “sólidos” pelos avaliadores, mas não os classificados como “incompletos” ou “inadequados”.
O ex-editor e fundador da eLife, o biólogo Randy Schekman, vencedor do Nobel de Medicina ou Fisiologia de 2013, disse à revista Science que a decisão pode colocar em risco a viabilidade financeira da publicação – ele deixou o conselho editorial depois de se opor ao novo modelo de publicação. Como muitos pesquisadores usam o fator de impacto como critério para selecionar os periódicos para os quais vão enviar seus artigos, há o temor de que o volume de trabalhos submetidos à eLife diminua, assim como sua arrecadação. A revista cobra uma taxa para publicar os papers.
A eLife, no entanto, informou em seu comunicado no início de novembro, quando a suspensão do FI já era pública, que a tendência de submissão permaneceu nos patamares registrados em outubro e setembro. Uma exceção foram os artigos provenientes da China. Foram apenas 35 na primeira quinzena de novembro, ante quase 150 na primeira quinzena do mês de outubro. Já artigos de autores do Reino Unido registraram um aumento. “O fato de continuarmos recebendo submissões de países como a Itália, que também dependem fortemente do fator de impacto, é um sinal encorajador”, informou a publicação em um comunicado. O periódico também destacou que o FI é “amplamente reconhecido como problemático por ser frequentemente mal interpretado e mal utilizado na avaliação da pesquisa”.
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