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Ecologia

Aves às pampas

Green beef aproxima interesses de pecuaristas e biólogos no Sul

ADRIANO BECKER/SAVE BRASILVeste-amarelas, comuns em BagéADRIANO BECKER/SAVE BRASIL

Ornitólogos começaram a defender a pecuária e pecuaristas a valorizar animais silvestres em Bagé, no Rio Grande do Sul. “Aves e agronegócio podem conviver”, assegura o biólogo Pedro Develey, diretor de conservação da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (Save Brasil). Ele começou a aproximar os dois grupos habitualmente distantes depois de participar de um levantamento que mostrou a riqueza de aves no Pampa, a paisagem típica do Sul do país, marcada por descampados cobertos por uma vegetação rala.

Em apenas três fazendas do município de Bagé ele e outros biólogos identificaram 144 espécies de aves, um terço do total estimado para todo o Pampa, incluindo a ema, a maior ave da América Latina, e assistiram a cenas raras, como um bando de 103 veste-amarelas (Xanthopsar flavus), de peito amarelo e asas pretas, voando sobre uma colina suave. Com base nesses dados, Develey e os 40 criadores de gado da Associação dos Produtores de Carne do Pampa da Campanha Meridional (Apropampa) encontraram uma linha de trabalho conjunta com ganhos recíprocos, o rótulo green beef, um conceito que concilia pecuária e preservação ambiental: na prática, bois crescendo em pastagens naturais, formadas por 106 tipos de gramíneas nativas, contando apenas as das três primeiras fazendas inventariadas.

“Uma fazenda com muitas espécies de aves é uma fazenda saudável, com menos pragas e menos gastos com herbicidas”, diz Develey. Em dezembro do ano passado, como resultado do primeiro encontro de criadores de gado em pastagens naturais do Pampa no Cone Sul, saiu o livro Aves do Pampa, um manual de identificação das aves mais comuns na região de Bagé, com parte dos resultados do inventário de espécies nas fazendas. Criada em 1999 pela bióloga Jaqueline Goerck como ramificação brasileira da BirdLife International, a Save Brasil adota estratégias de ação diferentes para cada lugar do Brasil em que atua, mobilizando também prefeitos, promotores, professores, artistas e estudantes. “Os projetos de conservação só dão certo quando as comunidades locais participam.”

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