A poucos dias de se completarem seis meses do registro do primeiro caso de Covid-19 no país, ocorrido em 26 de fevereiro, o Brasil ainda não conseguiu colocar em prática uma das principais ações recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para controlar a disseminação do novo coronavírus: testar em massa sua população, identificar quem está contaminado, rastrear seus contatos e isolá-los para evitar a disseminação do patógeno.
Dados da plataforma Painel de Testes do Ministério da Saúde indicam que até 20 de agosto o governo pôs à disposição de todo o país 13,7 milhões de testes, sendo 5,7 milhões do tipo RT-PCR e 8 milhões de exames sorológicos rápidos. Os kits RT-PCR são destinados a diagnosticar quem está contaminado com o vírus naquele momento, enquanto os testes rápidos mostram quem desenvolveu anticorpos contra o Sars-CoV-2 por já ter sido previamente infectado.
Esses números mostram que a administração federal ainda está longe de cumprir a meta divulgada em 6 de maio deste ano, durante o lançamento do programa Diagnosticar para Cuidar. A estratégia nacional de vigilância epidemiológica e laboratorial para Covid-19 visava a realização de 46 milhões de testes para Covid-19 ainda em 2020. Naquela ocasião, o Ministério da Saúde previa que somente nos meses de junho a agosto seriam realizados 21 milhões de testes. Se essa meta tivesse sido atingida, um em cada 10 brasileiros teria sido testado num curto período de tempo, tornando mais efetivo o combate à doença.
“O descompasso entre a expansão da pandemia e a oferta de testes é grande”, destaca nota técnica divulgada em 14 de agosto pela Rede de Pesquisa Solidária, organização formada por mais de 70 pesquisadores de várias instituições que acompanham as políticas públicas das diversas esferas de governo no combate à Covid-19. “Na verdade, o governo federal não executou nenhuma política pública estruturada referente ao controle da pandemia por meio da massificação dos testes ou de identificação e isolamento dos infectados e seus contatos.”
O documento aponta ainda que “a taxa de positividade dos testes realizados no Brasil, 33%, associada à preferência por testes rápidos em detrimento dos testes RT-PCR, representa um dos principais gargalos no controle da pandemia e distancia a brasileira das experiências bem-sucedidas realizadas em países como a Coreia do Sul, Taiwan e a Alemanha”.
O site Worldometer, que traz dados atualizados sobre a situação da pandemia no mundo, mostra que o Brasil realizou até o momento 64 mil testes por milhão de habitantes, taxa mais de três vezes inferior à dos Estados Unidos (220 mil) e da Rússia (229 mil), que ocupam, respectivamente, o 1o e o 4º lugares entre os países com maior número de casos de Covid-19 – o Brasil é o vice-líder desse ranking e a Índia aparece em 3o lugar, com um índice de 23,6 mil testes por milhão de pessoas.
Estado de São Paulo
Além do programa federal de testagem, as diversas unidades da federação implementaram iniciativas nos últimos meses com o propósito de ampliar o diagnóstico de suas populações. No estado de São Paulo, mais de 3 milhões de exames já haviam sido realizados até 19 de agosto, segundo dados do Placar de testes do governo paulista. Cerca de 1,8 milhão deles foram exames de biologia molecular RT-PCR.
São Paulo processa hoje 30 vezes mais testes por dia do que no início da pandemia. O número saltou de 1,3 mil exames diários em março para mais de 40 mil em julho. “Os números são resultado do esforço do estado na ampliação da política de testagem, em parceria com laboratórios privados e também com municípios”, declarou o vice-governador e secretário de governo, Rodrigo Garcia, durante entrevista coletiva realizada em 12 de agosto. “Isso é fundamental na estratégia de combate à pandemia.”
Republicar